Não aguentava mais continuar em casa. E, claro, ninguém podia criticá-lo por isso. Em todo caso, provavelmente o melhor mesmo era ele ir embora e abrir seu caminho no mundo. Afinal de contas, já tinha oito anos, e a verdade é que até então não tinha feito nada de importante na vida.
Noah foge de casa – John Boyne
Hoje estou mais perto dos 30 do que dos 20. Logo eu, que tinha a impressão de que seria moleque para sempre. Estou me aproximando da terceira dezena e não sei bem como lidar com ela. Faço 25 anos e, quando me perguntam minha idade, ainda titubeio. No fundo, acho que ainda tenho 18 e nada vai me tirar isso da cabeça.
Sei que é só uma ilusão de garoto, mas gosto dela. Me ajuda a enfrentar a vida de pseudo-adulto que agora tenho. Tenho responsabilidades reais que treinei a minha faculdade inteira para ter. Enfrento o maior desafio profissional que já tive e preciso deixar o medo de fracassar de lado. E se tem uma coisa que aprendi nesse último ano é que trabalhar com criatividade é um medo constante de fracassar. De mostrar para o outro que, no fundo, você é uma fraude. De todo dia ter que se recriar para fazer algo novo.
Ainda não tirei meu diploma de jornalista, é verdade, mas isso está encaminhado e é o menor dos meus problemas. Diferente dos últimos anos, hoje tenho planos. Tenho ideias para colocar em prática, tenho propostas interessantes e vejo um futuro naquilo que escolhi como profissão. Não estou mais no fundo do poço como já estive. Hoje escalo as paredes e já consigo sentir a brisa que vem do lado de fora. Depois de tudo que aconteceu, é uma ótima sensação.
Também tenho tentado seguir a minha meta de fim de ano e ser uma pessoa melhor. Não é um processo simples e tenho me livrado de alguns fantasmas no caminho, mas acho que estou conseguindo. Devo muito a meus amigos, que têm permanecido por perto durante todo esse tempo. Aqueles com quem falo todos os dias, os que falo de vez em quando e aqueles que só torcem por mim. Sem falar no apoio em casa, que é insuperável.
Quando fiz vinte e quatro anos, meu único pedido foi que, aos vinte e cinco, eu pudesse me considerar feliz. Hoje estou. Ainda não está tudo perfeito e nunca vai estar. Pelo menos hoje as coisas estão se acertando e só de saber isso já sinto um alívio enorme.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.