Andei tentando, andei
Andei forçando, andei
Andei errando, mas andei, andei, andei
Braza – Andei andei
Planejei minha crônica de aniversário deste ano com bastante antecedência. Sabia sobre o que escreveria ainda no início de junho, com parágrafos inteiros sendo desenhados com cuidado na minha cabeça. Tinha plena consciência de que muito precisava ser dito, pois fiz coisa pra caralho desde o último texto. Coisas boas e outras nem tanto, como deve ser a vida. Que me fizeram parar e pensar no que eu queria pros próximos dozes meses. Tinha até umas metas em mente, sabe? Mas, no dia 1º de julho, às 22h, fui pro hospital com uma dor no peito. E, voltando sozinho pra casa às 5h do dia seguinte, achei por bem mudar tudo que tinha pensado e começar esse texto do zero, contando isso.
Queria muito poder dizer que foi a primeira vez que isso aconteceu, mas não foi. Deve ser a terceira ou a quarta, sendo duas em um intervalo de pouco mais de um ano. Dessa vez, a dor veio acompanhada por um formigamento no braço esquerdo. Isso foi o que, de fato, me preocupou. Começou enquanto cobria um evento presencial, mas me fiz de desentendido e continuei a fazer o que tinha que ser feito. A dor, porém, piorou quando cheguei em casa e a adrenalina baixou. Aí não teve jeito. Tomei um chá de cadeira durante a madrugada na UPA pra, no fim, reencontrar minha velha amiga.
Tenho plena consciência de que, há algum tempo, estou ultrapassando algumas barreiras aceitáveis em minha briga interna contra a ansiedade. Porque, em linhas gerais é isso: uma briga de alguém teimoso contra algo que é mais forte do que ele. E é evidente que estou perdendo feio essa luta.
Conversando com minha psicóloga, percebi que minha vida inteira foi baseada em tentar fazer coisas “produtivas” com meu tempo. Se não estou fazendo algo que considero construtivo, sinto um incômodo que me atrapalha, me deixa mal. Há um lado positivo, claro, que me impulsiona a seguir adiante. Mas há um evidente prejuízo, que estou tentando aprender a lidar. Há poucas coisas que verdadeiramente me tiram desse estado de alerta e, ainda bem, hoje sei bem quais são. Mas, se não tenho acesso a esses gatilhos positivos, minha cabeça não para. Vira um grande caos que tenho dificuldade de explicar em voz alta.
Enfim, diante desse cenário de saúde pra lá de mental, descobri que se eu ficar trabalhando de forma ininterrupta, consigo controlar meus ataques de ansiedade. Parece estranho, eu sei. Mas é real. Aprendi que o gatilho pros ataques é, em 85% do tempo, ligado ao trabalho – e aqui não entro em juízo de valor da empresa em que estou hoje. Sempre foi assim, me jogo de cabeça em tudo que é profissional. Também aprendi a identificar quando uma crise está pra chegar. E percebi que ver as coisas sendo feitas me acalma. Ocupa minha mente e dá uma certa noção de ordem dentro de mim. Mas tem um preço – cobrado com juros na madrugada de 1º pra 2 de julho.
Descartada a hipótese de um infarto aos 32 anos, só me restou reconhecer que preciso mudar algumas coisas pra continuar sendo um ser humano funcional. E aqui, enfim, vou poder retomar algo que queria ter escrito lá naquela crônica de aniversário que planejei no início de junho. Pra este ano que começa hoje, preciso de duas coisas: cuidar melhor de mim e ter mais disciplina.
Nesses últimos anos de terapia, identifiquei que sou uma pessoa que sente prazer em agradar os outros. Sou naturalmente gentil e tendo a querer que as pessoas gostem de mim. Foi assim que construí uma rede de amigos muito forte, que carrego comigo. Até costumo dizer, em tom de brincadeira, que sou bonzinho demais. É uma verdade, não vou mentir. Mas gosto de ser assim, pra falar a real. O problema é que, muitas vezes, fazer isso me faz ignorar minhas próprias necessidades e obrigações.
Nos últimos tempos, isso ficou ainda mais acentuado porque veio em conjunto com outro problema que enfrento há bastante tempo: a falta de disciplina. Isso, aliado à ansiedade generalizada, tem sido uma bomba relógio. Ao querer continuar trabalhando para aliviar a ansiedade, eu sigo em um fluxo ininterrupto. E como não tenho a disciplina necessária para seguir horários e prazos, vou me matando aos pouquinhos. Nos momentos em que estou livre, fico tão cansado que não tenho forças físicas e mentais para fazer nada. Isso me deixa ainda mais ansioso – porque, vamos lembrar, eu preciso estar sendo produtivo em 100% do meu tempo para ser feliz. Então as coisas vão se acumulando e eu vou me matando aos pouquinhos, sem nem perceber.
É por isso que, nesse novo ciclo dos 33 anos, quero apenas uma coisa: ter um mínimo de disciplina em minha vida. Começar algo, me engajar e continuar. E precisa ser algo ligado a um cuidado próprio, não a trabalho ou a outra pessoa. Faz muito tempo, por exemplo, que não escrevo por lazer aqui no blog. Não consigo encontrar uma atividade física para fazer porque acho “perda de tempo”. Não consigo ver um filme sem o peso de que deveria estar fazendo outra coisa mais produtiva no lugar. É um processo mental tão enraizado em mim que não tenho forças pra lutar contra. Aceitei que é assim. Então preciso dar um jeito de burlar o sistema.
Ainda não sei como fazer isso, mas quero tentar algo. Com pequenas coisas, dando passinhos de bebê. É como tentei sair do fundo do poço que me meti lá nas temporadas 2012/2013. É com calma, entendendo meus limites e o que pode ser feito. Mas é fato que algo precisa mudar e precisa mudar urgente.
Pra isso, preciso ter que aceitar que estou vivendo errado e ter um pouco de disciplina e persistência. Espero nunca mais voltar a um médico com dores no peito por questões de ansiedade. É uma promessa que faço pra mim mesmo nesse aniversário.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.