“No tengo todo calculado
Ni mi vida resuelta
Solo tengo una sonrisa
Y espero una de vuelta“
La vuelta al mundo – Calle 13
Quando escrevia críticas de livros com frequência, minha maior dificuldade era falar de obras que li e não me provocaram grandes emoções, sejam elas negativas ou positivas. Era preciso cavar opiniões para tornar o texto minimamente interessante, mesmo que o sentimento geral durante a leitura tenha sido de total indiferença. Escrever sobre paixões ou ódios é fácil, inclusive muita gente faz sucesso na internet apenas com essa fórmula. Complicado é gerar um material que engaja quando é preciso ponderar muitos pontos. Infelizmente esse é o caso de 2021.
Comecei a escrever as crônicas de redenção em um ano que pesei a mão no texto de exorcismo. Passei vários dias remoendo o que havia escrito e percebi que estava errado. Não queria só reclamar, também precisava agradecer as boas coisas vividas. Desde então, tornou-se uma tradição aqui no blog. Por coincidência, minha vida veio em uma crescente. O saldo tem sido positivo há alguns anos, com um bom ano sucedendo outro. Até a chegada da pandemia, que bagunçou tudo.
Na redenção de 2020, previ que este ano seria difícil. Mas nem no meu mais louco devaneio imaginei que tudo pioraria tanto antes de começar a dar sinais de “normalidade”. O primeiro semestre de 2021 trouxe de volta todo o medo da covid-19 e me fez ficar preso em casa por meses a fio, com poucos contatos com o mundo externo. Depois da vacina, em especial da segunda dose, meu cérebro relaxou um pouco mais e comecei a flexibilizar bem mais.
Essa flexibilização me fez viver alguns dos melhores momentos do ano, dos quais guardarei memórias para sempre. É claro que estou falando dos títulos conquistados pelo Galo, em especial o Brasileirão. Não queria que minha vida fosse tão controlada pelo futebol, mas ela é. Nunca tive esperanças de ver esse título ao vivo e, quando o feito se concretizou, as lágrimas desceram teimosas pelo meu rosto. As vezes que fui ao estádio, as pessoas que conheci no caminho, as comemorações. Foram alguns dos poucos pontos altos deste ano.
Até mesmo porque, como falei na crônica do exorcismo, minha sensação é de que o tempo parou. Continuo trabalhando bastante, sigo com minha rede de amigos próximos, fui em alguns casamentos celebrar o amor de pessoas por quem tenho um carinho enorme, viajei para uma cidade nova, encontrei pessoas que eu não via há quase dois anos. Até escrever mais aqui no blog consegui. Enfim, a vidinha tem seguido na mesma, muito bem, obrigado.
Pensando de forma mais racional, não foi um ano ruim. Coisas boas aconteceram em uma proporção interessante, apesar de tudo. Há algumas preocupações afetando meu cérebro, tanto relativas à minha pessoa quanto relativa a pessoas que gosto, mas está tudo na chamada de espera. Aguardando o mundo retomar o ritmo normal para voltar a caminhar como se deveria. Acho, inclusive, que essa é a principal sensação da virada de ano. É um carro a álcool que precisa esquentar para funcionar depois de uma noite fria. Um carro de fórmula um aguardando o acender das luzes. Falta só o juiz apitar para a vida voltar de vez.
Ainda tenho esperanças de que 2022 vai ser um ano melhor. A simbólica data da virada tem um efeito positivo em mim, que chego sempre com ânimo redobrado em janeiro, pronto para fazer várias coisas. Não vou alardear nada porque quero tentar fazer as coisas na surdina mesmo, preparando o terreno para o futuro. Mas estou cheio de ideias para colocar em prática. Como disse ano passado, aos trancos e barrancos as coisas estão andando. É bom que continue assim para ter uma perspectiva e ânimo para fazer acontecer.
E, bom, vamos torcer para a pandemia não piorar de novo. Se isso acontecer, esquece tudo que escrevi aí em cima e vamos para mais um ano mentalmente instável. Espero de coração que esta seja a última crônica falando disso.
*Como no exorcismo, não vou revisar ou editar este texto. O objetivo é ser um desabafo, não uma aula de literatura ou gramatical.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.