“Mientras más pasan los años
Me contradigo cuando pienso
El tiempo no me mueve
Yo me muevo con el tiempo“
La vuelta al mundo – Calle 13
Minha sensação é de que o tempo parou. Os planos feitos há dois anos seguem suspensos, esperando o mundo voltar ao normal – mesmo ele já tendo feito isso, a contragosto do Átila Iamarino. As sessões de terapia têm sido um constante “nada diferente, tudo no mesmo ritmo insano de sempre”, pontuado por eventuais “aquele problema que tínhamos tratado parece que voltou”. Um ano inteiro baseado em deixar o barco seguir o fluxo do rio, sem energias para pegar o remo e mudá-lo de direção. Ao mesmo tempo, vejo surgir uma pequena, mas persistente, infiltração que pode colocar tudo a perder dentro do meu próprio cérebro.
Tenho vivido a mesma rotina, o mesmo cansaço, a mesma insônia e a mesma ideia compulsiva de que não sou capaz de lidar com tudo o que preciso. Não é bem uma síndrome do impostor. Essa eu acho que já superei e entendi, a duras penas, que tenho capacidade para fazer as coisas. É mais um sentimento de que algo está fora do prumo, sabe? É difícil de explicar, mas está aqui comigo. E sei exatamente quais gatilhos dispararam esse sentimento, mas ainda não tenho as ferramentas certas para lidar com ele.
Como ocorreu com qualquer pessoa de bem, a pandemia também afetou meu psicólogico. Tem sido difícil lidar com o retorno à vida de antes, embora esteja me forçando a isso. Tenho que agradecer por nem eu, nem ninguém próximo de mim, ter tido qualquer problema mais sério com a Covid. Nos cuidamos bem durante esse período e isso ajudou, lógico. Mas agora que chegou o momento de flexibilizar, o tempo confinado tem cobrado seu preço.
Quem me viu por aí pode ter achado que estava tudo certo comigo, mas tenho feito um grande esforço pessoal para voltar à normalidade. Sei que é importante ultrapassar algumas resistências internas e tenho conseguido fazer isso. É mais uma questão de tempo mesmo, de voltar a criar uma rotina e adaptar as questões de trabalho ao resto da minha vida, que ficou parada enquanto estávamos na pandemia. Passei quase dois anos vivendo no mesmo ambiente do trabalho e isso mexeu com a minha cabeça. Me joguei nas questões da empresa e isso foi me consumindo aos poucos. Minha bateria social não é mais a mesma do que era antes. Preciso encontrar um equilíbrio e essa é minha principal missão para 2022.
É bom estar registrando essas questões porque, para mim, essa se tornou a função do exorcismo: colocar para fora os sentimentos ruins que vivi e entrar no próximo ano com a cabeça limpa. Uma tradição que costuma me fazer muito bem, ainda mais desde que prometi deixar de ser resmungão e reclamar menos. Minha reação diante de um problema mudou muito desde então. Tenho me concentrado, reunido forças e buscado soluções o mais breve possível. Sem ficar puto ou esbravejar, apenas usando a calma para resolver a questão. Em meio à pandemia, isso tem sido difícil, mas é um exercício que preciso fazer em busca da minha meta de ser uma pessoa melhor.
E é até engraçado ler o exorcismo de 2020 porque nele previ, mesmo que involuntariamente, muito do que escrevi aqui. O que eu não poderia imaginar era uma piora da pandemia no início deste ano, mas o sentimento de que seria difícil voltar à vida normal já estava lá, junto com a ideia de que a minha vida tinha parado. Hoje, com o retorno gradual às atividades que eu fazia antes, isso está mais evidente ainda. É, repito, apenas uma questão de tempo até as coisas retornarem e uma rotina ser melhor estabelecida.
Por isso, preciso repetir o que falei ano passado. Quero continuar me desafiando e fazendo coisas novas, seja para mim, seja no trabalho. O psicológico não está dos melhores, mas há muitas ideias para colocar em prática. Planos antigos que agora preciso tirar forças para colocar em prática. Se o cenário da pandemia não piorar, só vai depender de mim dar um jeito na minha vida. E estou disposto a fazer isso.
Como este é um texto mais emocional e escrito no impulso, não vou revisar. Provavelmente vai ter erros, mas peço que relevem. É um exorcismo, não uma aula de gramática.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.