Foto: Pedro Souza | Atlético
A primeira vez que meu olho encheu de lágrimas foi ao ouvir a mãe de uma amiga contar a história dela com o Galo e o quanto ganhar um título do Brasileirão significava. A conquista de uma vida, de uma atleticana calejada que já precisou enfrentar muitas coisas para poder torcer para o time que ama. Uma mulher incrível, queria ter gravado para vocês ouvirem. E, enquanto ela contava, a filha chorava ao meu lado. Meu olhar passava de uma para outra e minha reação era apenas sorrir. Porque aquilo ali era a pura emoção de um título. O amor de uma filha com a mãe. O amor das duas com o Clube Atlético Mineiro.
A segunda vez que ele encheu de lágrimas foi ao ver o stories de um cara que conheci há pouco tempo contando que estava levando o pai dele no Mineirão, em um retorno após dois anos de pandemia. Era a retribuição para alguém que o tinha levado em todos os jogos da vida. Era muito mais do que um jogo. “Acho que esse vai ser um dos dias mais felizes da minha vida”, disse. “Uma justiça cabulosa com meu pai. Eu só consigo pensar nele quando vejo o Galo jogando”. Ver os dois abraçados e sorrindo, enquanto ele sussurrava um “obrigado” no ouvido do pai em meio à torcida entoando VOU FESTEJAR O TEU SOFRER, foi lindíssimo.
Nos próximos dias vamos ouvir muitas histórias como essas. Talvez a mais forte de todas foi o Reinaldo chorando pelo título que não deixaram ele trazer para a gente. É a imagem perfeita que o Galo precisava para ilustrar o título. Um momento que muitos – eu, inclusive – acharam que nunca chegaria. Porque sim, finalmente a gente pode falar que é bicampeão brasileiro. Falta só um ponto para a matemática nos entregar a taça, mas agora é questão de quando e não mais de se. Podemos ser campeões fora de campo SE o Flamengo não ganhar o jogo ou podemos nos sagrar vitoriosos SE empatarmos contra o Bahia, sem depender de mais ninguém.
Aliás, ainda não consegui digerir bem a informação de que vamos ser campeões. Se não falei até agora sobre o jogo contra o Fluminense é porque isso é secundário nessa história. Sim, o pênalti não existiu – os terraflanistas têm razão dessa vez. Apesar disso, o time jogou para cima, querendo a vitória. Foi uma partida apertada, difícil, cercada de tensão como sempre é contra o Fluminense desde 2012. Qualquer um poderia sair com a vitória. Mas fomos nós que ganhamos.
Só sei que, quando dei por mim, estava gritando É CAMPEÃO no meio do Salomão, tradicional bar atleticano em Belo Horizonte. Assisti ao jogo a quilômetros de distância dali, no Santa Tereza, mas o impeto de encontrar alguns amigos e celebrar a vitória (a vitória não, o campeonato) me fez atravessar meia cidade. Nada mais importava, apenas a insanidade do momento. Ainda tive forças para voltar para encontrar outras pessoas na Sapucaí, fechando a noite de euforia. E se foi assim sem a confirmação, imagina quando o título realmente vier?
No calor do momento, ainda está difícil internalizar que, sim, vamos ser campeões depois de 50 anos de espera. Quando um amigo que estava no Mineirão chegou para nos encontrar, a gente se abraçou e soltamos um “A gente vai ser campeão, porra”. O sorriso no rosto, aquele abraço demorado. Acho que aí comecei a entender que está acontecendo. A gente vai ser campeão. Estamos tendo o privilégio de viver isso de volta ao estádio, com os amigos e família ao redor, mesmo depois de tanto sofrimento pela pandemia. Agora é só questão de tempo para dar tudo certo, em todos os sentidos. Há esperança.
O resto da noite foi só um borrão de felicidade e bons momentos. Como espero que seja o resto dessa semana e todo o fim de 2021 para o atleticano.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.