Foto: Pedro Souza | Atlético
Quando o juiz apitou o fim do jogo, minha única reação foi tirar a roupa e ir para a cama. Arrependido de não ter podido ir ao Mineirão e ainda sem banho, mas com um largo sorriso no rosto e em completo êxtase. Paralisado. Uma sensação que poucas vezes senti na vida. Meia hora depois, ainda sem conseguir mudar de posição, estava entregue. Dormi como há muito não dormia, mesmo com a luz do quarto acesa na cara. O coração mais leve e os sonhos todos voltados para a taça do Brasileirão.
Tudo que o atleticano fez ao longo dos últimos 50 anos foi sonhar com o momento em que a teriámos em mãos mais uma vez. Eu mesmo vivi esse sentimento apenas duas vezes. Em 1999, contra o mesmo Corinthians que esmagamos com autoridade nesta rodada, ficou marcado na memória o sofrimento de uma criança que não ganhou um título de presente de Natal e aprendia, na dor, o que era ser atleticano. Em 2012, a sensação era de que não importava o que fizéssemos, nunca alcançaríamos a glória. Como disse na crônica da rodada passada, há motivos para sermos desconfiados. A cada jogo que passa, porém, temos o direito de sonhar um pouco mais alto.
A partida contra o Corinthians foi uma pintura de campeão. Não houve espaço para o adversário reagir, enjaulado no meio campo e pressionado contra um dos melhores ataques do campeonato. Empurrado mais uma vez pelo imortalizado 12º jogador, o time mostrou que sabe entregar o espetáculo que tanto esperávamos. Três golaços, duas canetas e a tranquilidade de mais uma vitória em casa, a 13ª seguida, atingindo um feito que só o Palmeiras de 2018 tinha conseguido.
Como Fred Melo Paiva disse em sua coluna pós-jogo, o título está acontecendo – no gerúndio mesmo. Aos poucos o Galo vai trilhando seu caminho. No dia seguinte ao jogo, até parei para fazer as contas de quantos precisamos ganhar para não depender do tropeço de ninguém (são quatro, caso tenha batido a curiosidade). Por isso mesmo ninguém ainda tem coragem para gritar É CAMPEÃO, seja no estádio ou nas ruas. Mas, no vazio de casa, quando ninguém está ouvindo, talvez até possamos admitir tal possibilidade. Falar isso em público nunca, dá azar.
Minha sensação é de que estamos como um leite esquentando no fogão à lenha. Não dá para ver direito, mas a temperatura está aumentando aos poucos e sabemos que, em algum momento, tudo vai transbordar. A cada jogo que passa, isso fica ainda mais próximo. Não sabemos exatamente quando vai ser, mas nosso papel é o de ficar ali do lado, aguardando o momento certo. E, quando chegar, quero ver quem vai nos segurar.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.