Foto: Pedro Souza / Atlético
São, no mínimo, oito pontos de vantagem para o segundo colocado – isso se o Flamengo vencer o jogo que tem a menos. Faltam oito rodadas para terminar o campeonato. Apenas 24 pontos em disputa, com um time que possui assombrosos 72,2% de aproveitamento. Se mantiver assim, será a segunda melhor campanha da história dos pontos corridos, atrás apenas do Flamengo de 2019. E, mesmo assim, nenhum atleticano quer cravar que o Galo será o campeão Brasileiro de 2021.
Até mesmo porque a torcida, precavida, sabe muito bem com o que está lidando. Pode parecer pessimismo para quem acompanha outros times, mas só a gente sabe o que é ser vice-campeão invicto do Brasileirão. Aguentamos a zoação de flanelinha após ter a chance de assumir a ponta do campeonato apenas algumas rodadas antes. Este ano mesmo fomos eliminados da Libertadores sem perder um jogo sequer. Somos calejados por derrotas amargas para Goiás, Botafogo, Brasiliense, São Caetano. Vamos para o jogo pensando em como o Galo pode estragar nosso dia porque foi assim por muito tempo.
Até mesmo as vitórias da Libertadores em 2013 e da Copa do Brasil em 2014 foram golpes do destino, nós sabemos. Os deuses do futebol olharam para aquele time e pensaram em como construir a melhor narrativa para as duas competições. Então tome pênalti defendido no último minuto, escorregada cara a cara com o gol, viradas históricas após estar perdendo por 3×0 no placar agregado e o grito apaixonado/desesperado de “Eu acredito” vindo do 12º jogador em campo.
Agora, porém, não é mais uma questão de acreditar. Todo mundo sabe que o Galo está nas últimas voltas de uma longa corrida, com 10 segundos de vantagem para o carro que vem atrás e apenas guiando seguro até a bandeirada final. Mas o atleticano tem consciência de que o motor pode explodir na última curva. Por isso, seguimos céticos. Nos apegamos a tradições antigas para evitar que o mal aconteça. Como disse minha amiga Mariana Pires, nem faixa de campeão está permitido por enquanto e a torcida tem respeitado isso nos arredores do Mineirão. Eu, por exemplo, sei que perdemos do Flamengo porque estreei meu novo manto da massa no dia do jogo. A culpa foi minha e peço perdão, prometo não estragar mais nada até o final.
É uma cautela desmedida, mas que vem do coração. Com um time bem montado, apoio financeiro e uma estrutura de treinamento de qualidade desenvolvida na última década, o Galo confirmou a oitava participação na Libertadores nos últimos dez anos – na maioria das vezes, direto na fase de grupos. Antes disso, tínhamos ido rumo à glória eterna apenas quatro vezes. O que estamos testemunhando ficará marcado na história e pode, em breve, ser coroado com a segunda estrela no escudo, marcado há 50 anos pela solitária amarelinha. Mas, enquanto analistas esportivos e demais torcedores pensam em “quando”, o atleticano segue no “será mesmo?”.
De volta ao Mineirão, a torcida empurra o time aos gritos de “Vamos Galo, ganhar o Brasileiro”. Cada jogo tem sido uma final e os jogadores em campo têm correspondido a esse sentimento. Uma zaga que quase nunca é vazada, um meio de campo seguro e criativo e um ataque como há muito não víamos. Dessa vez não está sendo preciso torcer contra o vento, apagar os refletores ou esperar um milagre vindo direto da santa de Cuca. O atleticano foi calcado na dificuldade, por isso é tão estranho ver uma vantagem como essa e, ainda assim, ficar empolgado. Sabemos que estamos quase lá, mas o mineiro é desconfiado por natureza e o atleticano é mais ainda.
Nos desculpem por achar que algo vai dar errado. Só vamos acreditar no título quando a segunda estrela estiver bordada em cima do escudo. Até lá, é uma batalha por rodada e vamos juntos enfrentar isso a plenos pulmões.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.