Sigue andando el camino por toda su vida
Respira
Y si pierdes mis huellas, que dios te bendiga
Respira
Breath – In the Heights
Ano passado eu disse não querer escrever uma crônica sobre como é fazer aniversário em meio à pandemia, mas este ano não tem jeito. Fazer o balanço do que passou é olhar para as paredes que me cercam. É lembrar de 365 dias confinado em um quarto/sala, dos medos e incertezas, das coisas que ficaram para trás e dos sonhos adiados. É pensar nos abraços e beijos que não dei, nas pessoas que não vi e nos lugares que não fui. É lutar contra a sensação constante de uma crise de ansiedade à vista – e que, às vezes, bate com força e me derruba. É a batalha diária para me manter ativo quando o mundo ao meu redor fala que preciso desacelerar.
Olhando assim, pode até parecer que tudo está desmoronando e que, mais uma vez, cheguei ao fundo do meu poço emocional. Na realidade, não é bem isso. Tenho consciência de que vivemos um momento atípico e, eventualmente, as coisas vão melhorar. Apesar do governo, apesar dos negacionistas, apesar do vírus. Apesar das minhas inseguranças e fantasmas. Vai passar. Tive o privilégio de viver este ano sem grandes perdas. Minha família está vacinada. Em breve, eu e meus amigos também estaremos. Eu estou bem. Amanhã há de ser um novo dia. Essa perspectiva de futuro é a única coisa que ainda me mantém olhando para frente, esperançoso para ver as melhoras.
Até mesmo porque, apesar de várias noites de insônia e de ataques de ansiedade, está tudo caminhando – em um ritmo mais lento, mas está. No lado profissional, tive importantes reconhecimentos e assumi responsabilidades que nunca imaginei ter a essa altura da vida. Gosto muito do que faço, aprendi a aceitar a confiança que as pessoas depositam em mim e fico genuinamente feliz de ver as coisas ganhando corpo. Cada linha que escrevo, cada planejamento feito e cada trabalho entregue é uma alegria a ser celebrada. Porque, apesar de tudo, estou seguindo em frente. Não está sendo fácil, mas estou indo. É algo pensado para um longo prazo, que tem tudo para ser construído por vários bons momentos.
Mas só foi possível absorver e entender melhor essas questões porque tenho uma rede de apoio forte ao meu redor. A pandemia me impediu de ver minha família na frequência que eu gostaria, mas cada pequeno encontro foi especial. Hoje é dia de ir na casa da minha mãe, ficar rodeado pelos meus sobrinhos e recarregar as energias. E sei que será ótimo ver todo mundo nem seja só um pouquinho e celebrar esses pequenos momentos. É algo que, infelizmente, sei que vou perder neste próximo ano, então quero aproveitar ao máximo enquanto é possível.
Também foi muito importante ter meus amigos por perto. Alguns foram essenciais por estarem comigo todos os dias, com encontros presenciais, partidas de videogame e caminhadas a esmo por aí. Eles me aguentaram nos piores momentos e me deram o suporte necessário para seguir em frente. E espero ter feito isso por eles também. Mesmo os que se mantiveram apenas como figuras virtuais estavam ali para o que eu precisasse, e isso foi fundamental. Sem todas essas pessoas, não conseguiria ter chegado até aqui depois de tanto tempo confinado sozinho.
Um efeito negativo, porém, foi perder a sensação de que um ciclo estava se encerrando. Era algo que estava muito forte em mim até meu aniversário do ano passado, mas a extensão da pandemia deixou tudo em suspenso. Caí em um estado de apatia constante e tenho deixado a vida em ponto morto. Ainda sei que algo está próximo a se fechar, que me ajudará a concluir alguma coisa dentro de mim. Não sei o que é, mas quase consigo tocar. Fazer isso só depende de mim. Preciso virar a chavinha interna para que isso aconteça, mas ainda falta descobrir qual é essa chavinha.
Algumas coisas, porém, são certas para este próximo ciclo. Há pontos importantes que preciso fazer aos trinta e dois que não posso mais adiar. Assuntos tratados ao longo desse último ano e que espero encerrar em breve. Mudanças na vida, que me trarão novas perspectivas. Tudo para manter aquela promessa constante de ser alguém melhor. Disse ano passado e volto a me repetir aqui: preciso me desafiar. Ir além, tirar do papel as coisas que tenho ensaiado há tempos. Sei que só depende de mim, de reunir força suficiente para tentar.
A promessa que me faço para este ano é justamente essa. Arriscar mais. Espero voltar aqui em 2022 dizendo que pelo menos uma dessas tentativas teve bons resultados.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.