Era a sétima vez que o telefone tocava em menos de meia hora. Tentou imaginar a voz da Zooey Deschanel do outro lado da linha o convidando para um drink, mas tinha certeza que era mais um problema a resolver. As últimas seis fora, por que essa seria diferente? Deixou tocar três vezes, respirou fundo e atendeu. Como previsto, alguém precisava de sua ajuda. Como previsto, mais uma coisa que para resolver. E, como previsto (já se sentia a Mãe Dináh a essa altura), era uma emergência.

Anotou em um dos post-its que ficavam na tela do computador e voltou para o que estava fazendo antes. Dois minutos depois, mais uma vez o telefone. Mais uma ligação, mais uma tarefa. Naquele ritmo, não terminaria nada do que precisava entregar e ainda teria um computador com bordas amarelo-marca-texto.

Aquela colagem de mensagens era um lembrete constante do quão cansado estava nos últimos tempos. Havia assumido responsabilidades demais e precisava dar conta de todas. Mas elas continuavam a brotar, como pragas na plantação. Sabia que a única solução era arrancar todas as plantas e queimar, mas sabia que essa não era a resposta de um milhão.

As tarefas acumulavam e os minutos passavam rápido demais. Era quase 18h e não conseguiria terminar tudo, mas prometeu sair no horário certo dessa vez. Era sexta-feira e, pela primeira vez em semanas, não ficaria preso até às 22h. Precisava descansar. Tinha agendado um final de semana de folga e nada o faria mudar de planos. Havia até anotado nos post-its para não esquecer. Era algo que precisava ser feito, pelo bem da própria saúde mental.

Sabia que sofreria as consequências depois, mas quando viu o carro vermelho de seu amigo a esperá-lo na porta, largou os problemas para trás. Estava indo encontrar os amigos que tanto sentia falta. Sentou no banco da frente e só precisou falar uma coisa para que o amigo entendesse:

“Vamos”?

E partiram.