Quando me convidaram para mudar de galinheiro, logo pensei que a mudança seria grande e significativa. Tá certo que o poleiro é maior e tem mais galinhas andando pelo quintal. Mas como quem está falando sou eu, é impossível que a mudança tenha sido boa.
Um da condições principais da mudança é que eu continuasse a ser o único frango garanhão reprodutor do galinheiro. E se engana quem pensa que isso é algo bom. Como diria aquela frase manjada do tio Ben, “grandes poderes exigem grandes responsabilidades”. Tamanha responsabilidade faz com que eu me sinta amedrontado. É galinha demais para um frango só dar conta. Se mal consigo chegar junto de uma de cada vez, imagina de várias?
O pior da mudança é que parece que a minha vida inteira resolveu vir junto. Já no ônibus da viagem, quem veio do meu lado foi aquele galo velho caquético. Acho que é só ele que não vê que já sou um frango crescidinho e não preciso mais de aulas. Mas ele continua me chamando de bebê e insiste em me dar aulas de “Como ser um galo de sucesso”. Como se ele coubesse o que é ter sucesso em alguma coisa.
Para piorar tudo, no banco atrás do meu veio o meu pior pesadelo. Não, não é o Freddy nem uma panela de barro. Esses dois são até fichinha perto da pavorosa galinha gorda com celulite. Sério, quando aceitei mudar de galinheiro, nunca pensei que aquela louca iria mudar também. Se eu soubesse disso, teria deixado ela vir pra cá sozinha e ficado no galinheiro antigo. Agora é tarde.
Mas, apesar de tudo, estou feliz. Afinal, a galinha gostosa do poleiro de cima também está se mudando comigo. Talvez seja esse o ano em que vou me dar bem e levar ela para conhecer meu poleiro de uma forma mais íntima. Não custa sonhar, né? Ainda mais porque só a tenho nos sonhos mesmo.
Enfim, o que eu tava falando mesmo? Ah é, do preço do milho. A pior notícia que recebi ao chegar aqui foi a queda do preço daquela bolota amarela nojenta. Aqui ela é muito mais barata que no outro galinheiro. Sabe o que isso significa? Que vão me dar aquela merda para comer mais vezes durante a semana. Já estou com saudade da macarronada que me serviam de vez em quando na outra granja.
Depois de um período de adaptação aqui, acabei descobrindo que mudar é ótimo. O ruim é trazer sua vida inteira na bagagem. Mas não reclamo, acho que estou em casa.
Começou a escrever em 2008 para fugir de uma rotina massante no galinheiro e descobriu que era bom naquilo. Ou pelo menos achava que era, já que nunca conseguiu dar nenhum beijo na boca por seus textos. Dizem por aí que continua virgem, mas ele nega.