O clube do filme
David Gilmour
Publicado em 2007
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Tinha tudo para ser um bom livro. Tudo mesmo. Pena que não é. Quem gosta de cinema vai sair decepcionado e quem está apenas esperando uma boa história também. Como de praxe, vamos falar um pouco da sinopse antes de destrinchar esses detalhes.
O clube do livro é uma obra autobiográfica que narra a construção de uma relação entre pai e filho. Quem escreve é David Gilmour, crítico de cinema americano que por muito tempo apresentou quadros de cinema na televisão. Quando ele percebe que o filho Jesse não tem mais interesse na escola, ele propõe que o filho abandone tudo. A única condição é que ele não se envolvesse com drogas e assistisse a três filmes por semana com o pai.
O filho, que não é bobo e queria fugir dos problemas, aceita a proposta e passa a cumprir as exigências do acordo. É aí que começa a parte boa? Não, é aí que tudo começa a cair. Vamos aos fatos:
- Quem espera uma análise bacana dos filmes vai se decepcionar. Os mais de 100 títulos abordados passam de forma desinteressante e com informações praticamente sem relevância. Muitas vezes a escolha dos filmes é para dar uma lição de moral ao filho.
- São 113 filmes no total. Com uma filmografia tão extensa, é bem capaz de o livro te deixar com vontade de assistir pelo menos uns 10, certo? Pelo contrário. Da forma como os filmes são apresentados, dá preguiça. O máximo que se fala sobre cada um é um parágrafo, comentando a cena mais importante segundo David ou o filho. Só isso, sempre.
- Além disso, o crescimento dos personagens não é visível. Jesse começa a história com 15 anos e termina com uns 20. Aos 15 ele chorava por amor, era sentimental ao extremo, dizia que nunca mais conseguiria se apaixonar e esquecer a ex-namorada. Aos 20 também. Exatamente a mesma coisa, a mesma melação. Não aprender nada em cinco anos é atestado de burrice, nem que seja burrice narrativa.
- Eu falei que é um livro e, por isso, o que acontece externamente ao tema central deveria influenciar de alguma forma a atitude dos personagens, certo? Pois é, a mulher de David é tão rasa quanto um pires, a ex-mulher é o policial bom do casal e nada mais. E o pior. No final do livro, nos agradecimentos, o autor diz que tem uma filha QUE NÃO FOI NEM CITADA.
Se a proposta era mostrar o crescimento da relação com o filho, como eles se aproximaram e se tornaram amigos, até entendo focar nos dois e nas atitudes de cada um. Mas excluir completamente o resto da vida dos dois da brincadeira é ultrapassar uma linha tênue. Talvez por isso os personagens não evoluem.
Mas se posso sair em defesa do livro é que pelo menos é uma leitura muito rápida e fácil. E, mesmo ele não dando nenhum tesão de correr atrás, a lista de filmes fornecida é bacana e pode ser utilizada para assistir a bons longas pela vida. Mas, espera aí, já existe o 1001 filmes para ver antes de morrer. Pois é, devia ter comprado ele.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.