Do fundo do meu coração
Do mais profundo canto em meu interior
Pro mundo em decomposição
Escrevo como quem manda cartas de amor

Cananéia, Iguape e Ilha Comprida – Emicida

Apesar de todas as consequências negativas da pandemia, posso dizer que sou uma pessoa muito privilegiada. Não precisei enfrentar o vírus de frente, tive a oportunidade de trabalhar de casa sem muitos efeitos colaterais para mim e para a empresa, ninguém próximo teve reações sérias à Covid-19 e meu emprego se manteve estável. Em um ano tenso como foi 2020, essas pequenas conquistas mostram que nem tudo deve ser um eterno lamúrio.

Para começar, este foi o meu melhor ano como profissional. Antes mesmo da pandemia estourar, tive uma oportunidade de trabalho foda que acabei recusando. Em outubro, meu trabalho foi novamente visto pelo mercado e, outra vez, decidi permanecer onde estava. Não por comodismo, mas por ser reconhecido, por saber que estou em um lugar que valoriza o que faço e, principalmente, por ter uma perspectiva de futuro. Terei um desafio grande em 2021, mas pela primeira vez minha empolgação está maior do que a síndrome do impostor. Quero fazer o que for possível para responder à confiança que tiveram em mim e isso é combustível para seguir em frente.

Também tenho dado importantes passos para colocar pedras em cima de algumas questões que me perseguem há bastante tempo. Há uma mudança de casa prevista para o início do ano, uma possível carteira de motorista no horizonte e a sensação de que enfim sou capaz de enfrentar os inúmeros problemas de autoestima que possuo. Isso sem falar que pode ser o ano em que enfim vou terminar a lista de livros não lidos da minha estante, um desafio pessoal que me persegue há tanto anos e que enfim vejo esperança de ser finalizado.

Mas o que tem me deixado mais empolgado é a perspectiva de voltar a produzir conteúdos para mim mesmo, seja aqui no blog, nos sites de terceiros ou no canal do YouTube. Quando decidi aceitar a contraproposta da atual firma, uma das condições que me impus foi a de ter um pouco mais de tempo para mim. Para isso, eu precisaria largar a maioria dos meus freelas. Foi o que fiz. A partir de janeiro, terei pouquíssimas preocupações de trabalho fora as da empresa, o que me dará mais tempo para mim. Apesar das minhas responsabilidades por lá terem aumentado, pesei muito na balança essa questão e vi que é possível. É algo de que sinto falta e que com certeza me fará muito bem enquanto ainda durar essa pandemia.

Outra coisa que sinto muita falta é da companhia da minha família e dos meus amigos. Me tornei tio pela quinta vez este ano, mas vi meu sobrinho pouquíssimas vezes desde que ele nasceu. Cada vez, porém, foi muito comemorada. E poder ficar cercado por todos eles no Natal foi uma das melhores sensações do ano.

E a mesma coisa pode ser dita sobre meus amigos. Consigo contar nos dedos os que encontrei pessoalmente no pós-pandemia, mas cada um foi especial demais. Seja para uma partida de videogame com aquele que estou mais perto durante todo esse período. Seja para uma volta de carro para discutir uns problemas pessoais. Seja para uma tarde de domingo conversando sobre coisas da vida. Ou seja para um simples “Oi” virtual via chamada de vídeo. Essa pequena bolha que formei nesse período foi fundamental para me ajudar a passar esse período com maior tranquilidade. E saber que estarei com alguns deles vendo 2021 chegar traz ainda mais alegria para mim.

Quero me agarrar com mais força ao fio de esperança que me leva para o próximo ano. Não será um fácil, mas quero me manter em atividade. Como disse na redenção do ano passado, sei que há muito a ser feito. Mais do que nunca, também sei que cabe a mim tornar isso realidade. E aos poucos sei que estou conseguindo fazer isso, mesmo que aos trancos e barrancos.

*Como no exorcismo, não vou revisar ou editar este texto. O objetivo é ser um desabafo, não uma aula de literatura ou gramatical.