– Alô?

– Eu te amo!

– Oi? Quem tá falando?

– Eu te amo, Sônia, te amo!

– Miguel, é você?

– Sou eu! Liguei pra falar que te amo!

– Miguel, são três da manhã. Volta a dormir.

– Eu não dormi a noite inteira pensando em você. Passei as últimas horas me lembrando de como é bom ter você nos meus braços, sentir o cheiro da sua pele enquanto a gente se beija, sentir seu cabelo roçando a minha nuca para me acordar no domingo de manhã.

– Miguel, olha…

– Poder chegar em casa depois de um longo dia de trabalho e te beijar toda, te encontrar só de camisola assistindo aquela novela chata do Manoel Carlos, fazer sexo no sofá como dois adolescentes.

– Miguel, são…

– Acordar no ia seguinte ao seu lado e ter certeza de que você é a mulher da minha vida, olhar nos seus olhos e ver que você sente a mesma coisa, rir com você as coisas mais banais, andar de mãos dadas no parque olhando as crianças, sonhar em ter algumas.

– Miguel, são três da manhã, desliga esse telefone agora.

– Mas eu te amo, mulher! Você não vê isso? Não consigo imaginar minha vida longe da sua. É por isso que te ligo. Casa comigo. Casa comigo amanhã. Providencio tudo, pode ficar despreocupada. Olho vestido, igreja, buquê, lua de mel. Casa comigo?

– Casar com você de novo? Miguel, a gente já tá divorciado há três anos.

– Mas eu te amo! Te amo, te amo, te amo!

– É por isso que a gente terminou.

– Por eu te amar demais? Por acreditar que a nossa relação era tudo na minha vida? Por pensar que passaria a minha vida inteira com você, que nós envelheceríamos juntos e veríamos nossos netos correndo no quintal? Por tentar ser feliz do seu lado?

– Não é nada disso, Miguel. É por você só lembrar que existo quando está bêbado. Satisfeito agora?

E desligou o telefone. Na próxima sexta ela se lembraria de tirar o telefone do gancho antes de ir dormir.

Para ler ouvindo: Evanescence – Call me when you’re sobber

*Este post faz parte do Music Experience