Esta é a 10ª edição do meu ranking de melhores leituras do ano. Todos os livros que li desde 2009 estão devidamente catalogados e, em 2011, comecei essa tradição aqui no blog. Mas o que era para ser um marco simbólico foi estragado pela pandemia. Em 2019, minha rotina mudou de tal forma que só consegui ler 33 livros durante todo o ano. Ficar em casa quase 300 dias em 2020, porém, me fez perder o prazer em ler.
Poucas vezes me senti tão desinteressado em pegar um livro quanto neste ano. Minha casa se transformou em espaço de trabalho e lazer, misturou tudo dentro da minha cabeça e não tive vontade de ocupar a mente com nada, principalmente literatura. Não consegui me desligar e isso prejudicou minha capacidade de concentrar. Ou seja, foi um péssimo ano de leituras, com apenas 12 obras lidas.
De qualquer forma, sigo firme na minha missão de eliminar os livros não lidos da estante. Finalmente consegui enfrentar Moby Dick, mas odiei cada segundo da leitura. Também li duas obras teóricas do Roland Barthes e vi o quanto sinto falta disso de vez em quando. Além disso, terminei um livro nacional muito interessante, escrito pela Carol Chiovatto, e aproveitei a empolgação por ter assistido à série Anne with an E e li o clássico infantil Anne de Green Gables.
Ou seja, restaram poucas opções para eleger os melhores livros de 2020. De qualquer forma, vamos para o top 3:
2020
3º lugar: Valente por você, Vitor Cafaggi
Comecei a acompanhar o Valente ainda na primeira tirinha, quando ela era publicada no blog do Vitor. Isso foi há uns 10 anos. Na época, ele nem imaginava escrever três graphic MSPs, que seriam um enorme sucesso e virariam até filme. Eu ainda estava na faculdade e começava a brincar de escrever sobre livros. Uma vida se passou desde então e ver um desfecho tão gostoso pra esse cachorrinho é um prazer enorme.
Quando escrevi sobre o primeiro encadernado (publicado de forma independente, sem o selo Panini), disse que todo mundo se identificava com o Valente. Hoje vejo que não é bem assim. Esse ser que se apaixona a cada esquina, quebra a cara todas as vezes e que tenta a todo custo se descobrir pelo amor, nunca fez parte de mim. Mas a forma como o Vitor constrói o crescimento do personagem é tão bonita que, aí sim, é impossível não se relacionar.
Esta última edição de Valente mostra o caminho que todos nós, em algum momento da vida, vamos passar. É a dor e o prazer de crescer e entender o que realmente precisamos para sermos felizes. É o final perfeito para a história que me acompanhou por tanto tempo.
2º lugar: Os chefes, Mario Vargas Llosa
Este foi o segundo livro do Llosa que li e mais uma vez foi uma grata surpresa. É um compilado de contos que não se preocupam com o contexto, apenas com contar a história. Essa ideia de não explicar as coisas tem rondado minha cabeça há bastante tempo, influenciado meu jeito de escrever e o Llosa abriu algumas possibilidades para mim com esse livro.
As melhores histórias dessa obra são as que retratam as infâncias e o crescimento dos meninos, com amizades, amores e rebeldias. Mesmo mostrando muito da masculinidade que hoje é vista como tóxica, merece ser apreciado pelos seus méritos ao conseguir narrar bem aquelas situações comuns e, ao mesmo tempo, únicas.
1º lugar: 1984, George Orwell
Nunca tinha lido esse clássico da literatura e foi uma experiência fascinante adentrar esse mundo distópico pela primeira vez. Afinal, ler um clássico é sempre uma grande viagem. De ideias, de reflexões e, nesse caso, de desesperança e medo. E 1984 é uma obra que carrega em si todo o pessimismo sobre a humanidade, que demorou muito tempo para eu conseguir digerir propriamente e apreciar como ela deve ser apreciada.
Depois de quase um ano da leitura, sei que aquilo que mais me pegou foi o poder da comunicação e da desinformação dentro daquele universo. Como profissional da área, entendo as responsabilidades que tenho com qualquer tipo de informação. Também sei dos poderes que um enfoque mal intencionado podem ter na vida de uma pessoa e até mesmo de toda uma sociedade. 1984 mostra exatamente o que acontece quando o governo tem poder total sobre isso. Uma ditadura camuflada, em que todos pensam estar vivendo em paz.
Foi uma leitura incrível que precisarei repetir depois de algum tempo para poder absorvâ-la em sua totalidade.
Ranking dos últimos anos
2011: 3º – Desventuras em série, Lemony Snicket || 2º – Os três mosqueteiros, Alexandre Dumas || 1º – Peter Pan, J. M. Barrie
2012: 3º – A invenção de Hugo Cabret, Brian Selznick || 2º – Jogador nº 1, Ernest Cline || 1º – A torre negra, Stephen King
2013: 3º – A dança da morte, Stephen King || 2º – O encontro marcado, Fernando Sabino || 1º – Daytripper, Fábio Moon e Gabriel Bá
2014: 3º – Mrs. Dalloway, Virginia Woolf || 2º – Lolita, Vladimir Nabokov || 1º – Sandman, Neil Gaiman
2015: 3º – O velho e o mar, Ernest Hemingway || 2º – Febre de bola, Nick Hornby || 1º – O senhor das moscas, William Golding
2016: 3º – A guerra dos tronos, George R. R. Martin || 2º – Pequenos deuses, Terry Pratchett || 1º – O sol é para todos, Harper Lee
2017: 3º – Androides sonham com ovelhas elétricas?, Philip K. Dick || 2º – Anna Kariênina, Liev Tostói || 1º – A saga do Tio Patinhas, Don Rosa
2018: 3º – A guerra não tem rosto de mulher, Svetlana Aleksiévitch || 2º – David Copperfield, Charles Dickens || 1º – Cem anos de solidão, Gabriel García Márquez
2019: 3º – A redoma de vidro, Sylvia Plath || 2º – Crônica de uma morte anunciada, Gabriel García Márquez || 1° – A casa dos espíritos, Isabel Allende
Livros lidos em 2020
(As datas são relativas ao término das leituras)
01/01: Os meninos que enganavam nazistas, Joseph Joffo
17/01: 1984, George Orwell
26/01: Os chefes, Mario Vargas Llosa
29/02: O nosso reino, Valter Hugo Mãe
02/05: Inéditos 1 – Teoria, Roland Barthes
06/06: Moby Dick, Herman Melville
11/06: O fim, Fernanda Torres
08/08: Modern love, org. Daniel Jones
28/09: Inéditos 2 – Crítica, Roland Barthes
08/10: Valente por você, Vitor Cafaggi
08/11: Porém bruxa, Carol Chiovatto
21/11: Anne de Green Gables, Lucy Maud Montgomery
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.