24 horas, 48 crônicas
Rob Gordon
Publicado em 2011
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Rob, Cronos e Morfeu conversavam como bons amigos em uma mesa de bar. Mesmo depois de muitos desentendimentos durante a vida, os três resolveram se encontrar para se acertar.
– Cara, desculpa por ter de te xingado tantas vezes, mas sabe como é vida de jornalista, Cronos. Você bem que podia ajudar com nosso deadline de vez em quando.
– Nem vem, Rob. A culpa era muitas vezes sua. Queria fazer coisas demais em tempo de menos. Ficava preso naquela redação e vinha me culpar. Coitado do Morfeu, que quando chegava você nem dava atenção para ele.
– É mesmo. Eu chegava e você me mandava ir embora porque precisava trabalhar mais.
– Eu sei, eu sei. Tô aqui pra pedir desculpas. Que tal tentar consertar isso? Eu sei que vocês gostavam de brincar com os semi-deuses. Passo longe disso, mas que tal um desafio? Proponham algo que vou cumprir dessa vez.
E foi assim que surgiu o desafio 24 horas, 24 crônicas. O tal Rob em questão é o Rob Gordon, autor dos blogs Champ Vinyl e Champ Chronicles. A proposta de Cronos e Morfeu era complicada: escrever uma crônica por hora, durante 24 horas. Sem dormir e lutando contra o relógio. Para ajudá-lo, somente os leitores dos blogs que o acompanhariam via Twitter, sugerindo temas.
Um tema, uma hora, 60 minutos, 3600 segundos, uma crônica, um café, uma Coca-Cola e uma voltinha pelo apartamento para relaxar e espantar o sono. Mais um tema, mais uma hora, 60 minutos, 3600 segundos. Mais uma crônica, mais um café, um cigarro e já é hora de voltar para o computador para mais uma crônica.
E Rob Gordon riu na cara do grande Cronos e conseguiu. Enquanto Morfeu o tentava com seu manto, os leitores vinham com elogios e o deixavam mais desperto. As 24 horas passaram voando, assim como as 24 crônicas e o desafio proposto pelo Deus e pelo Titã. Ao final do dia, o merecido descanso e as glórias de ter derrotado seres tão poderosos.
Tá, admito que não aconteceu bem desse jeito, mas a essência é essa aí. Durante 24 horas, foram 24 crônicas escritas, uma a cada hora, com sugestões dos leitores via Twitter. Um puta desafio. Algum tempo depois, a notícia de que as 24 crônicas haviam se tornado 48 e que mais um livro estava vindo, com as sugestões não aproveitadas dos leitores. Assim nasceu 24 horas, 48 crônicas.
Já acompanho o Rob há uns quatro anos e nem preciso falar o tanto que curto os textos que ele escreve. Tendo acompanhado o processo quase ao vivo (perdi o início, a madrugada e as últimas duas horas), deu para ver a criação na nossa frente. E não é todo dia que um escritor faz isso tão às claras e em tamanha cumplicidade com os leitores. Só por isso o livro já merece aplausos. Mas nem é isso que o torna tão bom.
O que deixa ele excelente são as crônicas, que mantêm o padrão Rob Gordon de qualidade. Mesmo as que não são tão boas têm estruturas que as deixam interessantes. No meio disso tudo, temas como Kelly loirinha mignon faz tudo, Na fila para reencarnar e Filhotes em uma vitrine de Pet Shop desfilam na nossa frente, tratados de forma inusitada, engraçada ou emocionada.
Afinal, “os textos estão vivos dentro de nós, simplesmente esperando para sair”. Foi isso que o Rob fez, dando vida aos temas de maneira espetacular. Para não perder o costume do Rob Gordon (o personagem de Alta Fidelidade, não o autor), vou fazer um Top 5 com as crônicas que mais recomendo. Elas não estão em ordem de preferência, mas sim de publicação no livro.
Top 5 crônicas
1. “Amores” – Tema: Amor de Inverno x Amor de Verão
2. “Faca ao sol” – Tema: Um personagem que se revolta contra a vontade do autor e quer outro final para si
3. “Os amores de Pattie” – Tema: Homenagem a Pattie Boyd, a mulher que inspirou dois clássicos do rock: Something e Layla
4. “A cantada” – Tema: Você vem sempre aqui
5. “Nove romances e duas peças de teatro” – Tema: Uma criança que descobre a dor e a saudade
Bônus track “Banda de Garagem” – Tema: E se os Beatles não deslanchassem
24 Horas, 48 Crônicas
Rob Gordon
Clube dos Autores, 2011
243 páginas
Ps: Tem um tema sugerido por mim lá! É o “Primeira vez em um cinema”, que deu origem à crônica “Luzes e Sombras”. Nem precisa falar a felicidade em ver meu @ lá nos agradecimentos, né? Valeu Rob!
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.