Antes de começar a escrever qualquer coisa para o blog, sempre dou uma lida no que a galera de outros blogs andou falando sobre o assunto. Quando fui pesquisar sobre Ao cair da noite, do Stephen King, uma das coisas que mais li foi “Ah, não gosto de contos, mas li esse livro…”.

Isso ficou martelando na minha cabeça. Como assim não gostar de contos? Será que é uma opinião geral? Mas foi quando comecei a escrever a crítica e fui reler a introdução do livro que meu cérebro fundiu. Peguei outro livro de contos do King que tenho, mas ainda não li (Tudo é eventual), e também abri a introdução. O resultado foi que não conseguiria escrever a crítica de Ao cair da noite sem antes parar para refletir: o conto é realmente um gênero em decadência?

O que o King diz?

Vou contar brevemente uma experiência que o King relata na introdução de Tudo é eventual. Ele diz que raramente é abordado pelas pessoas quando está nos aeroportos. No máximo algum executivo chega perto e pede um autógrafo para a mulher. “Esses sujeitos com ternos magníficos e pastas de executivos geralmente contam que a mulher leu todos os meus livros. Por outro lado, eles não leram nenhum. Querem que eu saiba disso também.”

Tudo mudou quando ele lançou o primeiro conto em e-book (Andando na bala) e apareceu em todos os jornais pela novidade. Esses mesmos executivos começaram a abordá-lo para perguntar como estavam as vendas dos livros e sobre o método utilizado. Nenhum deles, porém, perguntava sobre a história. “Você quer saber quantos leitores que baixaram Andando na bala realmente leram o conto? Eu não. Acho que poderia ficar extremamente desapontado.”

Na mesma introdução, ele cita que o espaço para publicação de contos de novos autores é cada vez menor. As revistas que faziam isso são raras e tentam sobreviver a trancos e barrancos. Ele também fala que esse livro provavelmente chegará às listas de best-seller (“tenho tido muita sorte nesse aspecto”), mas que dificilmente outros livros de contos têm o mesmo sucesso. E ainda se questiona até quando as editoras se interessarão por livros que não têm tanto apelo do público.

Já na introdução de Ao cair da noite, King puxa outro lado, que muitos romancistas norte-americanos não escrevem contos por diversos motivos: claustrofobia criativa pelo pequeno espaço, perda da capacidade de concisão ou mesmo esquecer como se escreve um conto. Além disso, conta como ele mesmo deixou de produzir contos por um tempo e como isso o fez mal.

Pois é, King, concordo demais

E daí?

Depois de ler todos esses comentários, minha cabeça fritou. Se fosse para escolher qual o formato literário mais gosto, conto e crônica disputariam a primeira posição. O conto, em especial, tem uma pequena vantagem. Por serem narrativas mais curtas, precisam encantar desde a primeira frase. Os personagens não têm o tempo de um romance para se apresentarem e se desenvolverem. É um desafio para a concisão e exige habilidade narrativa.

Pegando o que o King falou sobre contos e puxando minha memória, não conheço nenhuma publicação brasileira que se dedique a divulgar contos de novos escritores. Ou melhor, não conheço nenhuma que não fique restrita ao meio universitário. Com a internet, esse não deveria ser um problema, certo? Uma experiência como a narrada pelo King mostra um dos muitos problemas disso. Passando para uma esfera menor, quando publico uma crônica no meu blog, por exemplo, sou eu mesmo publicando meu material. É diferente se uma revista especializada ou um jornal fizer isso. O meio e a credibilidade são diferentes. A divulgação não é a mesma e o respaldo que você ganha é outro.

Vejo que falta espaço no mercado para contos. Você provavelmente só conseguirá publicar uma coletânea se tiver um trabalho anterior que sustente lançar nesse formato. E só venderá bem se as pessoas te conhecerem previamente. Porque uma coletânea de contos é uma roleta russa, são muitas possibilidades para você gostar ou não, coisa que não ocorre em um romance. Mas não tem sensação melhor do que pegar um livro, abrir em um conto e ler tudo em uma sentada. Ter o prazer de uma história completa condensada em poucas e bem escritas páginas. Um prazer simples que deveria ser mais estimulado quando se fala em leitura.