– Foi aprovado, amor!
– Sério? Que maravilha. O placar ficou quanto?
– 5 a 4. Foi apertado, mas passou.
– Bom, agora foda-se quem votou contra, foi aprovado!
– Sim! E você nem viu o Facebook ainda, tá todo colorido com a galera mostrando o apoio. Tá lindo.
– Toda briga, toda discussão, todo conservadorismo. Um chute na tradicional família americana.
– A gente pode falar isso das famílias de lá? Achei que era só aqui que tinha isso.
– Deve poder. Babaca tem em todo lugar. Onde já se viu impedir duas pessoas de se amarem?
– Pois é, não tem babaquice maior. E você viu a hastag que eles decidiram usar?
– A #LoveWins?
– Ela mesma! É linda. Simples, direta ao ponto. Podiam ter usado também o famoso All you need is looooooooove.
– Não precisa começar a…
– All you need is loooooooooooooooooooove!
– Para, você tá desafinando.
– Eu sou desafinado. ALL YOU NEED IS LOOOOOOOOOOOOVE!
– Assim eu vou ter que ir até o cartório pedir nosso divórcio, amor.
– Deixa disso, você se apaixonou por mim naquele dia no karaoquê, confessa.
– Naquele dia eu te achei louco. A paixão veio depois, você sabe.
– LOVE IS ALL YOU NEEEEEEEEEEEEEEEED!
– Se continuar assim vou ter que ir pros Estados Unidos e arrumar uma gringa pra mim. Agora que pode casar, vou até descolar um green card e te largar aqui cantando sozinho.
– Vai me trocar por uma mulher qualquer que vai conhecer na rua? É isso? E trocar o meu corpinho por um par de peitos?
– Não sei, depende se o que você tá cozinhando tá tão gostoso quanto o cheiro.
– Sua boba!
Ele deu aquele sorrisinho pelo qual ela se apaixonara e voltou a cozinhar. Não contente, ela se levantou da cadeira e o abraçou. Entre risos, se beijaram e comemoraram uma causa que nem era deles. Era casados há mais de sete anos, um direito que já nasceram com ele. Não sabiam o que era amar uma pessoa e não poder estar legalmente com ela, dividir direitos e deveres e ser reconhecido por isso. Mas sabiam que ninguém podia proibir esse troço chamado amor. Comemoraram da mesma forma que fizeram quando seus amigos e amigas homossexuais puderam se casar, há dois anos. Uma grande conquista, sem dúvidas.
Era uma felicidade genuína. Uma ode ao amor. Só isso.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.