Não tem nada mais insuportável do que esse maldito galinheiro aos domingos. Pior ainda quando é um domingo de dezembro, porque isso significa que nem esporte (entenda-se fórmula 1 e futebol) tem para assistir.
Meu poleiro tá uma zona e ainda não tive a mínima coragem de arrumar. Acordei às cinco da madrugada (como de costume) para acordar essas galinhas preguiçosas e voltei para cá. Estou de pijama até agora, só olhando o movimento da rua e cultivando mofo embaixo das penas.
O que mais me surpreende é a animação das galinhas. Hoje é domingo, porra. É dia de descansar, não de colocar a fofoca em dia. Muito menos embaixo do meu poleiro! Graças a essas galinhas enxeridas já sei quem está dando em cima de quem, quem está pulando a cerca, qual esmalte tá na moda e o que a Griselda vai fazer na novela das nove.
Aliás, Griselda não é o nome da galinha do Chico Bento? Alô Maurício de Sousa, processa o autor da novela porque ele tá denegrindo o nome da sua personagem mais importante. Pensando bem, o nome da galinha era Griselda ou Giselda?
Foda-se. Deixa isso pra lá. Onde parei mesmo? Ah é, no Esquenta. Pra matar meu tédio, liguei a televisão na Globo e tava passando um programa com a Regina Casé com o infeliz nome de Esquenta. Não tem palavra pior pra falar com um frango do que “esquenta”. Se vier junto com panela e caldo então… desliguei a tv na hora porque tenho medo de filme de terror. Pensando bem, acho que a Regina Casé devia mudar o nome dela pra Regina Garnizé. É só um palpite, mas pode checar lá na numerologia que ela vai fazer mais sucesso assim.
Mas nada muda o fato que hoje é domingo e que eu odeio domingos com todas as minhas forças. Esse negócio de ser o garanhão reprodutor da granja tem seus defeitos. O principal deles é ser o único macho desse lugar. Isso, claro, se a gente ignorar aquele galo velho caquético. Como não me imagino nunca chamando ele pra tomar uma cerveja gelada comigo, vou curtir minha solidão aqui em paz.
Tá, aposto que a primeira pergunta que veio na sua cabeça foi “Por que você não chama uma galinha para ir com você?”. Como a resposta está incluída na premissa de ser um frango, vou ignorar a pergunta. Ainda mais porque a galinha gostosa do poleiro de cima está de férias e tenho certeza que se eu sentar no bar sozinho aquela galinha gorda asquerosa e cheia de celulite vai vir toda se querendo pra cima de mim.
E a galinha gorda eu não encaro. Desculpa Bial, desculpa Brasil. Eu elimino a gorda e é questão de afinidade mesmo. Pessoal e sexual, no caso. É tipo uma aversão completa àquele ser terrível.
Fato é que hoje é domingo. Caso alguém encontre esse frango cheio de mofo, favor tirar do poleiro e colocar ao sol por três horas. Lembre-se de virar de hora em hora para não assar só de um lado. Grato.
Começou a escrever em 2008 para fugir de uma rotina massante no galinheiro e descobriu que era bom naquilo. Ou pelo menos achava que era, já que nunca conseguiu dar nenhum beijo na boca por seus textos. Dizem por aí que continua virgem, mas ele nega.