Desde que se formaram na faculdade, os domingos eram sagrados. Era o dia de assar carne, beber cerveja e jogar uma pelada no clube com os amigos. Faziam isso há quase oito anos e raríssimas vezes alguém deixou de ir.
Foi só uma questão de tempo para as respectivas namoradas também começarem a frequentar os encontros. Passou a ser o programa de domingo delas também, que trocavam almoços em família para curtirem o dia com a nova turma. A única que nunca aceitou isso foi a Natália.
Ela tentou de todas as formas fazer com que Vinícius parasse com aquilo. Fez chantagem emocional, greve de sexo, discutiu, arremessou pratos no chão. Nada adiantou. Todo domingo era a mesma coisa: ele saía puto de casa e ela batia as portas enquanto ele ia embora.
Para complicar, Vinícius nunca mais tinha feito um gol desde que as brigas começaram. Aliás, não chegou nem perto disso. Era um baita de um zagueiro, mas errava a pontaria toda vez que ameaçava chutar para o gol. Os amigos, lógico, transformaram isso em uma grande piada. No fundo, ninguém conseguia entender porque raios ele ainda estava com aquela mulher.
Mas ele nunca conseguiu colocar em palavras o tanto que gostava dela. O único problema entre os dois era a pelada de domingo. Tirando isso, eles se davam muito bem juntos. Gostavam da companhia um do outro, compartilhavam tudo, o encaixe na hora h era perfeito. Não podiam desejar nada melhor.
A frustração chegou ao ápice quando, em uma das inúmeras brigas, ele jogou na cara dela que eles só eram infelizes porque ela queria. Para completar, disse que estava tudo terminado e saiu do apartamento. Natália ficou aos prantos. Ele esperava nunca mais ter que aguentar aquilo.
Saiu direto para o clube, onde encontraria com os caras e afogaria as mágoas. Cerveja vai, carne vem, o jogo começou e Vinícius jogou como nunca. Graças a ele, o goleiro não tinha sido incomodado nenhuma vez. Em um lance, quando o time adversário dominava a bola no meio de campo, roubou a bola. Campo livre à frente, correu em direção ao gol. Procurou alguém para tocar e não encontrou ninguém. “Fudeu, vou ter que chutar.”
Olhou para o lado e viu Natália na grade, sozinha, olhando para ele. Quando ela fez um sinal de aprovação com a cabeça, ele sorriu, fechou os olhos e chutou.
Silêncio. O único barulho ouvido foi o som metálico quando a bola acertou o travessão e saiu pela linha de fundo. Na hora ele abaixou a cabeça, decepcionado. Ao fundo, palmas. Natália aplaudia e gritava o nome do namorado.
Ele levantou a cabeça, abriu um sorriso e correu para ela. “Tudo bem, amor?”, ele disse. “Claro, vai lá e destrói eles por mim”. Ele a beijou e voltou para o jogo, feliz e com planos para um pedido de casamento na cabeça.
Para ler ouvindo: Casamento – Tianastácia
Esta crônica faz parte do Music Experience
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.