O preço de uma lição
Federido Devito e Gutti Mendonça
Publicado em 2011
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[#momentoconfissão]
Antes que me perguntem, vou explicar porque comprei/li este livro. Desde que comecei a faculdade, sigo as revistas da editora Abril para aprender sobre elas na esperança de um dia trabalhar lá. Isso inclui a Capricho.
Nisso passei a ler o blog Vida de Garoto. Um dos caras que mais postavam lá era o Federico DeVito e, confesso, criei um carinho por ver a cara dele o tempo todo. Quando ele lançou um livro, em parceria com o Gutti Mendonça (que até então desconhecia), fiquei curioso e resolvi dar uma chance. Foi então que li O preço de uma lição.
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Passado o momento constrangedor, vamos falar do livro. Sob o slogan de “Os meninos são, sim, capazes de amar”, ele conta a história de um protagonista-sem-nome, de 20 anos, que é o sonho de todas as meninas. Educado, gentil, encantador, bonito e essas coisas que me fazem vomitar arco-íris coloridos. Quando ele conhece uma menina cinco anos mais nova e se apaixona pela primeira vez, sua vida muda completamente.
Não curto esse tipo de história porque sou tão sensível quanto uma porta, mas fui de coração aberto (na medida do possível). Só que os problemas do livro começam logo no primeiro capítulo. Tudo começa bem, contando como o protagonista-sem-nome conheceu seus quatro melhores amigos. Então, no meio do caminho, sem explicação, ele cresce. A transição de uma parte para a outra é mal executada, em apenas um parágrafo. Tive que ler mais de uma vez pra entender porque raios aquilo estava acontecendo e não cheguei a uma explicação decente.
E os próximos capítulos só servem para desanimar ainda mais quem procura uma história bem estruturada. O capítulo 2 começa imerso no caos. Nomes são jogados ao vento e detalhes desnecessários são dados a todo o momento. A escrita é tão parecida com linguagem oral, em que as frases parecem saltar como um fluxo de pensamentos caótico. Essa é a realidade do resto do livro.
Mas o maior problema são os personagens. Juro que curti o início, com os quatro amigos ainda crianças. Pensei: esse grupo tem potencial, vai dar uma história bem bacana. Mas eles somem, surgem novos, esses também somem e os personagens ficam assim, mal explorados. Muitos tinham um potencial criativo gigantesco e poderiam acrescentar muito à história, mas ficam de lado na maior parte das vezes.
Isso seria atenuado se os dois protagonistas fossem carismáticos, mas eles não são. Vou voltar para o slogan do livro: “os meninos são, sim, capazes de amar”. Acredito nessa frase e ela serve tanto para os meninos (que se acham machões e não amam) quanto para as meninas (que acham que são as únicas que se entregam nos relacionamentos). Homens são capazes de amar sim, mas não são bobos igual ao protagonista-sem-nome.
Depois que ele conhece Juliana tive uma overdose de açúcar injetado na veia e quase morri. É muito mimimi amoroso para fisgar adolescentes que acreditam que um cara como esse exista. Do outro lado, a namorada é compreensiva demais, passiva demais para um cara que uma hora faz tudo por ela e na outra fica cheio de provocações sem motivo.
Como o livro é narrado em primeira pessoa e escrito após os acontecimentos, dá para perceber uma coisa interessante no protagonista-sem-nome. Ao contar como fui sua pseudo-briga com a Juliana, que ocasionou no término do namoro, ele já se coloca como culpado, mostrando bem discretamente que ele foi um babaca sem razão. Esse é um ponto positivo do livro, que muda um pouco de tom após o término do namoro.
Disse muda, mas não melhora. Isso porque todos os pontos negativos que já apontei continuam a existir. Para piorar, mantendo a coerência do protagonista-sem-nome, ele tenta enfrentar um novo desafio em uma nova cidade, mas fica pensando na Juliana a toda hora. Cada vez que ele falava nela, eu tinha vontade de arremessar o livro na parede, principalmente porque as referências e as saudades sempre vinham em momentos aleatórios.
Nesse momento, o “fluxo de pensamentos caótico” já tinha me enchido o saco, os personagens inúteis continuavam a aparecer e as descrições de momentos sem sentido eram mantidas. Para completar, o final deixa um gancho para a continuação (que, se não me engano, está sendo escrita… li algo desse tipo no twitter do Federico), que é desnecessária. Os autores poderiam ter eliminado muita coisa da história e terminado ali mesmo, mas fazer o quê.
Então, meninas, favor não acreditar que os meninos precisam ser iguais ao protagonista-sem-nome. A sensação que ficou ao terminar de ler é que esqueceram de mandar o livro para a revisão e deixaram passar o primeiro rascunho.
O preço de uma lição
Federico Devito e Gutti Mendonça
Editora Novo Conceito, 2011
366 páginas
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.