Não faz sentido nenhum essas galinhas malditas comemorarem o dia internacional da mulher. Nenhum. Que eu saiba, esse dia foi pra marcar as conquistas históricas das mulheres, com o movimento feminista e coisas afins. Agora me fala por quais lutas essas galinhas acomodadas tiveram que passar?
Pra começar, quem sempre mandou no galinheiro foram elas. E nem precisou de revolução. Elas nasceram sabendo botar ovos. Quem bota ovo no galinheiro é rei. Ou, no caso, rainha.
Elas nascem, crescem, engordam, começam a botar ovos e acomodam. Ganham os melhores ninhos, as melhores comidas. E quando elas resolvem chocar, então? Aí que o granjeiro dá mais atenção ainda pra elas. Sou só um coadjuvante nesse lugar, tô te falando.
Não é toa que todo mundo fala que cria galinhas e não que cria galos. Ninguém em sã consciência cria galos. As nossas únicas funções no mundo são: acordar todo mundo de madrugada, assistir Fórmula 1 e reproduzir. Só. As galinhas têm utilidade. Elas botam ovos, criam os filhotes, evitam que nasça mato no galinheiro, fofocam da vida das pessoas, têm vida social ativa.
Enquanto isso, quem é frango só se fode. Quando você nasce e descobrem que você é macho, seu destino quase certo é a morte. Só aqueles abençoados pelo dom da boa genética (obrigado, Deus. Te devo uma) sobrevivem e se tornam os garanhões reprodutores das granjas. Cada granja costuma ter só um desses. Sentiu o drama?
A minha situação aqui no galinheiro é difícil. A minoria rejeitada aqui sou eu. Acho é que vou ali embaixo queimar umas cuecas e exigir meus direitos. Ouvi falar em algum lugar que isso dá certo.
Começou a escrever em 2008 para fugir de uma rotina massante no galinheiro e descobriu que era bom naquilo. Ou pelo menos achava que era, já que nunca conseguiu dar nenhum beijo na boca por seus textos. Dizem por aí que continua virgem, mas ele nega.