Preparem suas toalhas porque vamos sair dos confins inexplorados da região mais brega da Borda Ocidental desta galáxia com destino ao universo. Seja dentro de uma nave Vogon ou em uma estilosa RW6, não se assuste com o que rolar no caminho. A vida de um viajante interestelar não é nada fácil.

Ainda mais se seu nome for Arthur Dent, Ford Perfect, Zaphod Beeblebrox ou Tricia Mcmillan. Isso porque todos os fatores de improbabilidade trabalharão contra você. Ou a favor, dependendo do ponto de vista ou de qual região do espaço-tempo você esteja na Mistureba Generalizada.

Calma, ficou perdido nos parágrafos anteriores? Se não ficou, você é um cara dupal. Se ficou, só me resta te enviar para a Besta Voraz de Traal ou para o Vórtice da Perspectiva Total. Então simplesmente NÃO ENTRE EM PÂNICO e vamos falar um pouco da série que consagrou Douglas Adams como um dos maiores ícones nerds da nossa geração.

A série O Guia do Mochileiro das Galáxias é uma trilogia de quatro livros, que por um fator de improbabilidade são cinco. Acabei de reler pela quadragésima segunda e, em vez de resenhar cada um deles, quero mostrar porque a série inteira merece ser lida.

Para começar, o Guia é uma série que fala sobre o espaço, mas na verdade é sobre a Terra. Se pudéssemos torcer os livros, escorreroa ironia e sarcasmo aos litros. Tudo regado a uma dose cavalar de nonsense. Essa combinação faz com que existam coisas geniais em cada livro. Em O Guia do Mochileiro das Galáxias, toda a história da destruição/reconstrução da Terra, envolvendo golfinhos, ratos e o planeta Margathrea, são fantásticas. O Restaurante no Fim do Universo traz o próprio restaurante e a descrição do fim do universo. É em A Vida, o Universo e Tudo Mais que aprendemos a voar e tomar cuidado para não batermos em festa. Até Mais e Obrigado Pelos Peixes tem a Mensagem final de Deus para o universo. E Praticamente Inofensiva é uma zona graças à Mistureba Generalizada.

[cantando alto] So long and thanks for all the fish [/cantando alto]

Isso porque peguei só uma única coisa de cada livro, mas a série não é apenas isso. É uma tirada excelente atrás de outra. É um questionamento eterno sobre a vida que levamos na Terra e a que levaríamos fora dela. É por isso que é possível se identificar tanto com as situações, que por mais improváveis, sempre trazem um questionamento válido.

Além disso, outro ponto importante é a construção do livro em si. Uma coisa que os dois primeiros fazem tão bem é a divisão por capítulos. Há alguns mais longos, outros mais curtos, todos intercalados para que a obra ganhe dinamismo. Isso diminui nos livros seguintes, chegando até o quinto livro em que quase nunca acontece. Esse é, para mim, o ponto mais crítico com relação à estrutura.

Com relação à história, sou suspeito para falar porque gosto muito. Mas não dá pra ignorar alguns problemas óbvios que todos os livros, sem exceção, apresentam. Comentei que o nonsense é um dos principais pontos positivos da série, mas ela também é o que mais a prejudica. Não é porque as coisas acontecem sem explicação lógica. Não, isso é bacana. O problema é que a sucessão das coisas não faz sentido. De repente eles estão viajando no tempo ou viajando em realidades diferentes. Hora a Terra está destruída, hora não está. Hora os personagens saíram do planeta, hora não. Hora personagens importantes aparecem e depois eles somem. Isso faz com que a leitura fique confusa em muitos pontos e as dúvidas acabam sem explicação.

Esse problema é tão sério que me faz achar o quinto livro o pior de todos. Mas mesmo assim recomendo a leitura de todos, sem exceção. Se achar que está ficando maçante, não entre em pânico e continue. Vai valer a pena.

Fora que tem o Marvin, um dos melhores personagens da literatura mundial. Tem a resposta da vida, do universo e tudo mais. Para os taradinhos, tem sexo no ar. Tem o peixe-babel, Terra pré-histórica e muita improbabilidade. Não vou falar mais nada, porque são inúmeros fatores que fazem do Guia o primeiro mandamento nerd hoje.