Uma bala no chão. Rinctin-plinctin! Rinctin-plinctin! Um menino guloso agora a tem na mão. Azul e vermelha, com gotas lilases. Tão suculenta! Os olhinhos em festa já a devoram. Furtivos dedinhos a enfiam na boca. Quanto sabor! Rinctin-plinctin! A carinha feliz se esquece de tudo. Começa a corar – escarlate intenso. Não de entusiasmo. Incha; veias infláveis. Cabeça-de-balão até que estoura. Rinctin-plinctin! Sangue e cérebro por toda parte. Balofo sobe seu corpo de hélio sem cabeça até o espaço. Em diferentes locais, diferentes estouros. Sem demora um céu criancibalônio. Rinctin-plinctin! Mamães filhórfãs. Lágrimas choradas para cima. Dia ruborescido. Guloseimas dropping like flies. Inelutável sina de um futuro acéfalo. Ignóbeis balas! Rinctin-plinctin! Infantilmente sedutoras – ignorância infantil. Deturpação da inocência e roubo da pureza. Sem entender os pais se entreolham buscando respostas. A preocupação aumenta ao perceberem que os olhares vicinais mostram-se confusamente perdidos. O que está acontecendo? Por que isso? Rinctin-plinctin! Mas é tão simples! Disse sorridente e aos pulos um homenzinho barbudo. Minhas balas! Minhas balas! Rinctin-plinctin! Sem entender os pais viram o homenzinho tirar de cada um dos vários bolsos de sua vestimenta colorido-berrante, dezenas e mais dezenas de balas. Ainda pairava uma nuvem de desentendimento. Alguns corajosos engoliram as balas, esperando algum efeito. Nada. Rinctin-plinctin! Só funciona em criancinhas! Mamães aborrecidas chamaram-no louco e voltaram a chorar. Papais o enxotaram. Risonho foi-se embora, sem olhar para trás. Cantando:

Rinctin-plinctin!
Rinctin-plinctin!
Engole o que acha!
Não pensa demais!
Rinctin-plinctin!
Rinctin-plinctin!
É só uma bala
Que mal ela faz?

Muitos anos depois, os garotinhos e garotinhas – já adultos – despencaram de volta no mundo. E o futuro lhes foi dado de presente, celebrando seu retorno.