Quando fiz o ranking de 2018, disse que aquele tinha sido meu pior ano no quesito leituras. Então veio 2019, meus hábitos mudaram drasticamente e os 33 livros lidos acabaram de bater um novo recorde negativo. Chego a dezembro tendo finalizado pouco menos de três obras por mês, muito abaixo do que eu estava acostumado. Mas minha consciência está tranquila, pois sei cada um dos perrengues vividos que justificam essa queda.

Apesar disso, sigo firme na meta de finalizar os livros não lidos da minha estante. Terminei 2018 com 32, comprei apenas 13 e, agora, tenho 17 para ler. Isso equivale a 2,94% da minha estante e, de acordo com as minhas contas, até meu aniversário – em julho – devo terminar essa árdua missão. E fica a promessa: quando isso acontecer, vou retornar com meu canal do YouTube.

Como foram poucas obras lidas, escolher o top 3 deste ano foi mais fácil do que em anos anteriores. Comecei 2019 com Um milhão de finais felizes, do Vitor Martins, que foi uma grata surpresa e uma delícia de ser lido. As fúrias invisíveis do coração, do John Boyne, foi outro que arrebatou meu coração e quase chegou ao topo do ranking (ouça o Covil de Livros que gravei sobre ele). Para finalizar o mês, li o incrível A amiga genial, da Elena Ferrante, com sua construção de personagens impecável e o gostinho de que preciso ler o resto da quadrilogia Napolitana.

Nelson Rodrigues continua com seu poder de fazer eu me sentir sujo, potencializado pelo poder do teatro em Peças psicológicas e míticas. Já O labirinto dos espíritos foi conclusão perfeita para a quadrilogia do Cemitério dos livros esquecidos, escrita pelo Carlos Ruiz Zafón (ouça o Covil de Livros que gravei sobre ele). Além disso, estou finalizando Moby Dick, de Herman Melville, depois de anos com ele na estante. E se eu tivesse terminado o segundo tomo de O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha, com certeza ele teria entrado para o top 3. Mas quem sabe isso não ocorre em 2020?

Mesmo com todos os problemas, 2019 foi um ano de boas leituras. Então chega de enrolação e vamos logo para o top 3:

2019

3º lugar: A redoma de vidro, de Sylvia Plath

Poucos livros conseguiram retratar tão bem o avanço da depressão e as consequências disso para um paciente quanto A redoma de vidro. É o único romance escrito pela Sylvia Plath, publicado um mês antes dela cometer suicídio, em 1963, com 30 anos. E isso talvez seja o maior indício de que a obra tem muito da experiência de vida da autora, pois a doença mental da protagonista Esther Greenwood é muito parecida com a da própria Plath.

É um livro de leitura surpreendentemente leve, ainda mais se tratando de uma história sobre doença mental. O mais difícil, porém, é acompanhar a queda da personagem. É dolorido para o leitor, pois sentimos na pele cada derrota. Temos acesso a todos os confusos pensamentos dela. E, assim, podemos nos identificar, ou pelo menos compreender, o quão difícil está sendo sair daquela situação.

Apesar do clima otimista do final, não dá para esquecer que a Plath vivia isso na pele e não conseguiu escapar, como a Esther. Isso tornou a leitura muito mais impactante e me fez ter certeza de que a obra estaria no meu top 3 e entre as melhores que já li na vida.

2º lugar: Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel García Márquez

Este é o segundo livro do Gabriel García Márquez que leio e, mais uma vez, ele entrou no meu top 3 do ano. Crônica de uma morte anunciada já começa com um spoiler no título e, logo nas primeiras páginas, conta que Santiago Nasar foi assassinado. Esse é o fato que guia a história, mas não é o mais importante. O que vale é o caminho que levou até aquele momento, as relações traçadas e as motivações por trás do crime.

Se isso já não fosse bom o suficiente, o autor ainda traz uma pegada jornalística para o texto. Baseada em uma história real que ocorreu na cidade de Sucre, em 1951, a narrativa se aproxima bastante de um livro reportagem, recriando o último dia na vida de Santiago Nasar. O cuidado com os detalhes é tão grande nem mesmo o grande número de personagens é um obstáculo, pois conseguimos entender o papel de cada um naquela trama. E, por mais que saibamos o que vai acontecer, somos impactados quando o crime é concretizado.

Fazer isso dentro de uma história é muito difícil e os méritos são todos os Gabriel García Márquez. Não consegue bater a genialidade de Cem Anos de Solidão, mas é foda o suficiente para ser a segunda melhor leitura que fiz em 2019.

1º lugar: A casa dos espíritos, de Isabel Allende

O realismo mágico segue forte dentro das minhas leituras preferidas. Se Cem anos de solidão foi o melhor de 2018, este ano não pude deixar de premiar sua contraparte chilena. Escrito por Isabel Allende, em 1982, A casa dos espíritos acompanha três gerações de uma família – neste caso, os Trueba – durante os principais acontecimentos do século XX. Nunca é dito onde eles vivem, o que traz novamente aquela sensação de que poderia ser em qualquer país da América Latina, porém tudo indica que seja o próprio Chile.

A grande diferença com relação à obra do Gabriel García Márquez é que, aqui, acompanhamos tudo sob o ponto de vista das mulheres da família: Clara, Blanca e Alba (todas com nomes que remetem à cor branca). São personagens fortes, algumas até mesmo com dons sobrenaturais, que ajudam a construir um cenário de transformações sociais e políticas que todos nós conhecemos tão bem. Isso é feito com maestria pela Isabel Allende, que nos conduz de luta em luta sem que nos percamos no caminho ou julguemos alguma desnecessária para as personagens.

Terminei a obra com a certeza de que essa seria só a primeira, de muitas, incursões que farei na bibliografia da autora. Não vejo a hora de poder voltar a comprar livros para ter mais dela em minhas mãos.

Ranking dos últimos anos

2011: 3º – Desventuras em série, Lemony Snicket || 2º – Os três mosqueteiros, Alexandre Dumas || 1º – Peter Pan, J. M. Barrie
2012: 3º – A invenção de Hugo Cabret, Brian Selznick || 2º – Jogador nº 1, Ernest Cline || 1º – A torre negra, Stephen King
2013: 3º – A dança da morte, Stephen King || 2º – O encontro marcado, Fernando Sabino || 1º – Daytripper, Fábio Moon e Gabriel Bá
2014: 3º – Mrs. Dalloway, Virginia Woolf || 2º – Lolita, Vladimir Nabokov || 1º – Sandman, Neil Gaiman
2015: 3º – O velho e o mar, Ernest Hemingway || 2º – Febre de bola, Nick Hornby || 1º – O senhor das moscas, William Golding
2016: 3º – A guerra dos tronos, George R. R. Martin || 2º – Pequenos deuses, Terry Pratchett || 1º – O sol é para todos, Harper Lee
2017: 3º – Androides sonham com ovelhas elétricas?, Philip K. Dick || 2º – Anna Kariênina, Liev Tostói || 1º – A saga do Tio Patinhas, Don Rosa
2018: 3º – A guerra não tem rosto de mulher, Svetlana Aleksiévitch || 2º – David Copperfield, Charles Dickens || 1º – Cem anos de solidão, Gabriel García Márquez

Livros lidos em 2019

(As datas são relativas ao término das leituras)

01/01: Todas as cores do céu – Amita Trasi
04/01: Um milhão de finais felizes – Vitor Martins
12/01: Noveletas – João Paulo Vereza
19/01: As fúrias invisíveis do coração – John Boyne
27/01: Pequeno Irmão – Cory Doctorow
09/02: A amiga genial – Elena Ferrante
16/02: Um casamento americano – Tayari Jones
23/02: O bom filho – You-jeong Jeong
14/03: A retornada – Donatella Di Pietrantonia
04/04: Astronauta: Entropia – Danilo Beyruth
07/04: Peças psicológicas e míticas – Nelson Rodrigues
24/04: Tudo o que tenho levo comigo – Herta Müller
03/05: Quando fui morto em Cuba – Roberto Drummond
06/05: O regresso – Ivone Borges Botelho
18/05: Crônica de uma morte anunciada – Gabriel García Márquez
02/06: BH, a cidade de cada um: Mineirão – Tião Martins
08/06: BH, a cidade de cada um: Colégio Estadual – Renato Moraes
15/06: Um crime na Holanda – Georges Simenon
02/07: A casa dos espíritos – Isabel Allende
13/07: Coração de tinta – Cornelia Funke
27/07: As bruxas de Oxford – Larissa Siriani
15/08: Sangue de tinta – Cornelia Funke
17/08: O coração da magia – Larissa Siriani
24/08: O senhor das almas – Larissa Siriani
27/08: Mônica: Tesouros – Bianca Pinheiro
29/08: Piteco: Fogo – Eduardo Ferigato
03/09: Como escrever bem – William Zinsser
28/09: O labirinto dos espíritos – Carlos Ruiz Zafón
26/10: Morte de tinta – Cornelia Funke
17/11: O remorso de Baltazar Sarapião – Valter Hugo Mãe
27/11: A redoma de vidro – Sylvia Plath
Em aberto: Moby Dick – Herman Melville
Em aberto: O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha – Miguel de Cervantes