Quando viu o filho em cima do trepa-trepa, gelou. “Pai! Pai! Olha o que eu consegui fazer!”. O brinquedo devia ter quase dois metros de altura e o menino estava lá em cima. Ia cair, tinha certeza.
No meio do caos, ouviu um choro. O fogo estava alto quando olhou para dentro do apartamento. Muita fumaça. Os companheiros estavam do outro lado, com as mangueiras. Sozinho. “Merda, por que tinha que ser eu?”.
Estava quase chegando na caverna da fera quando ouviu um rugido. Estava lá dentro, tinha certeza. Quantos já haviam morrido naquele lugar? Quarenta, setenta? Cem? Não tinha ideia. Uma gota de suor brotou em testa.
Em poucos instantes ia apresentar o seu novo produto para uma multidão alucinada. Queriam novidades. Queriam seus sonhos realizados. As mãos suavam. Usou a tela do iPhone como espelho e viu seus olhos arregalados.
Sorriu para o filho e abriu os braços.
Entrou no meio da fumaça e encontrou o bebê.
Sacou a espada e entrou na toca.
Subiu no palco e fez os olhos da plateia brilharem.
Na hora certa, abaixaram a cabeça e olharam pra frente. Medo? Lógico, e com uma pitada de pânico, por favor. Mas sabiam que na hora de agir não podiam demonstrar nada. Pessoas dependiam deles. Eram heróis.
E um herói nunca pode revelar que, lá no fundo, também tem medo.
Para ler ouvindo: O homem de aço – Falamansa
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.