Ouviu o barulho da porta se abrindo. Pela hora, só podia ser sua mãe. Nem se preocupou em mudar de posição no sofá. O controle do vídeo-game estava no colo, a cerveja ao lado. Pelos seus cálculos, não precisaria se mexer nas próximas horas. Perfeito.
– Meu filho, ainda tá grudado nesse vídeo-game? Você não tem mais dez anos.
Lógico que ele sabia disso. Seus dez anos já passaram há um bom tempo. Mas a mãe parecia não acreditar. Repetia a mesma frase o tempo todo, com pequenas variações. “Você não tem mais dez anos”, “Você não é mais criança”, “Precisa encarar seus problemas”.
– Você sabe que jogar vídeo-game o tempo todo não vai resolver sua vida, não é? Tem quatro dias que você tá sentado aí, meu filho.
Ele, mais do que ninguém, sabia disso. O problema é que não conseguia falar com a mãe o que estava sentindo. Não queria encontrar ninguém tão cedo. Não estava com vontade de ver os amigos, a namorada. Ninguém. Era difícil de entender isso?
– Você sabe que essas férias da faculdade não vão durar para sempre, não é? Daqui a uma semana você precisa voltar pra lá.
Precisava mesmo? Já não tinha tanta certeza disso. Foram cinco anos na universidade e agora o mestrado. Por que a dúvida se antes tinha tanta certeza? A pesquisa estava indo bem. O trabalho no laboratório estava tranquilo. Mas queria continuar fazendo aquilo para a vida inteira? Dúvidas. E nenhuma resposta.
– Vai ficar sem conversar comigo? Então tá bom, vou guardar minhas coisas e fazer alguma coisa pra comer. Se estiver com fome, é só ir até a cozinha.
Ela saiu nervosa. Há três dias tentava animá-lo em vão. Sentia pena. A mãe estava com as melhores intenções, mas nada que ela fizesse iria adiantar. A vontade de mudar tinha que partir dele. Só dele.
Mas no momento, sua maior preocupação era salvar a princesa Zelda. E que o mundo esperasse ele estar pronto para enfrentá-lo de novo.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.