Incontrolável. Inexoravelmente dominador de seu próprio criador. Viu-se diante do idealizador da sandice em que fora criado. Desenvolvido. Indefeso em suas mãos, exatamente como ele próprio o era desde sua chegada ao mundo. Sentiu o ódio rasgar suas veias. Sentiu o coração forçar sua caixa torácica. Sua falsa vida desfilou diante de sua falta de sensibilidade, guinchando zombeteiramente. Tudo calculado. Milimetricamente planejado. Desumanamente arquitetado. Cada sensação, cada suspiro. O poder da vingança. O sabor agradável do acerto de contas. Em seus olhos a chama degustava o ardor do arrepio. Defronte, inescrúpulos trementes. Balanço corporal provocado pela surpresa. Elevada à potência do medo. Dois caminhos: destruir a obra-prima; domar o cão de guarda. Wrong choice. É tarde para lamentar. Sente o ódio sendo transmitido pelas pontas dos dedos, até atingir suas próprias veias, metamorfoseado em dor e culpa. Pavor. Resoluta expressão mirando convicta. Via de mão dupla. Sentidos diferentes, ademais. Suor gelado e proximidade da morte. Transpiração, sangue fervente e a chave da cela. Muro invisível: milissegundos entre passado e futuro. E tudo tem um fim. Ao sucessor a coroa! Justificados os meios.
Viajo há muito tempo percorrendo vários sistemas bem diferentes. A gravidade do planeta Química exerce forte atração sobre mim, mas o astro chamado Literatura é aquele no qual me sinto mais confortável. Nos entremeios e desencontros do caminho, músicas e histórias me ajudam a não perder o rumo.