“Se realmente acontecer não haverá mais esperança alguma. E parece que todos aprovam! Será que têm tanto medo de agir, assim? A coisa mais estúpida que se pode fazer é confiar a vida a alguém que sequer entende o que é, de fato, viver! Devo admitir que o mundo está um caos e que nossa sociedade logo não será mais sustentável. Mas esse é um problema que nós devemos resolver. De forma direta e ativa. Se nos enfiarmos naquelas bolhas e simplesmente “doarmos” nossa energia vital, o que estaremos fazendo não será um ato de nobreza. Não, senhoras e senhores. Estaremos evidenciando nossa falta de caráter. Nossa falta de moral. Nossa falta de comprometimento com o futuro da humanidade! E não me digam que estaremos deixando nossos egos para trás em prol da sobrevivência da Terra. Ela é tão nossa quanto de qualquer tigre, árvore ou montanha que existem. Nós também temos o direito de viver! E não é isso que acontecerá caso aceitemos passivamente essa proposta. Sobreviveremos, mas vegetando. Nunca mais desfrutaremos da plenitude de nossa existência. Seremos simplesmente baterias fornecendo energia para sustentar o que se chamará TerraVerde. Doaremos nossos corpos, nossas mentes, nossos descendentes e nossos futuros. Aceitaremos trocar nosso livre-arbítrio por uma metavida totalmente planejada na qual estaremos sempre felizes e sem nenhum peso na consciência. Exatamente! Se tudo der errado, nós morreremos, a Terra morrerá e nem mesmo ficaremos cientes disso! Não haverá como mudar o curso de nosso destino, caso seja necessário. Além disso, aceitaremos que milhões de seres humanos menos afortunados sejam “deixados para trás”. Mais uma vez demonstraremos claramente que o deus Dinheiro é quem olha por nós. Sacrificaremos nossos irmãos para salvar o planeta e nos deitaremos tranquilamente sem remorso algum, porque, na verdade, também seremos sacrificados. Todo ser humano tem direito a vida, ou estou enganado? Criamos leis para que a inteligência artificial possa governar de forma inequívoca enquanto não somos capazes de respeitar as nossas próprias? Chegamos a um ponto crítico. A um momento crucial em nossa curta história no livro do universo. É preciso tomar decisões drásticas e num espaço de tempo muito pequeno. É preciso alterar nosso estilo de vida, urgentemente. Podemos continuar caminhando rumo à autodestruição ou tentar desbravar o caminho que nos salvará. Felizmente, pelo que posso perceber, a tendência é optarmos pela segunda opção. Contudo, temo que estejamos prestes a pegar um atalho um tanto quanto duvidoso. É esse o exemplo que daremos ao mundo? Fugiremos da luta, deixando que máquinas assumam o controle? Será que nossa migração para uma era de felicidade ilusória é a solução? Estamos tão enjoados de nossas vidas a ponto de preferir estar dentro de um jogo eternamente? Pensem nisso, senhoras e senhores. O que estamos a ponto de decidir pode ser o início de um tempo de muita luta e cooperação, em busca de um futuro. Por outro lado, pode ser também o marco que separará a era em que ainda vivíamos, da era em que apenas sobreviveremos.”
Excerto do discurso de Marvin Pitts na Conferência de Ouroboros
Viajo há muito tempo percorrendo vários sistemas bem diferentes. A gravidade do planeta Química exerce forte atração sobre mim, mas o astro chamado Literatura é aquele no qual me sinto mais confortável. Nos entremeios e desencontros do caminho, músicas e histórias me ajudam a não perder o rumo.