Tinha tudo para ser uma típica história de amor. Os dois se conheceram na época da escola, se afastaram com a formatura e acabaram se reencontrando tempos depois. As conversas despretensiosas se transformaram em flertes descarados. Decidiram sair juntos. Cineminha, um filme qualquer e muitos beijos. Foi assim que ficaram juntos pela primeira vez.
Mas como essa não é uma típica história de amor, alguma coisa deu errado. O que aconteceu, na verdade, é que as expectativas dos dois sempre foram bem diferentes. Enquanto ela se dizia apaixonada e fazia de tudo para agradá-lo, ele queria apenas sexo e fazia de tudo para levá-la pra cama. Questão de prioridades.
Juntos há seis meses, ele já estava desesperado. Apesar das tentativas, ainda não havia acontecido nada. E não foi por falta de investidas e conversas, isso ele tinha certeza. A primeira vez que puxou o assunto, ela respondeu com um evasivo “deixa rolar. Quando tiver que ser, será”. Ele deixou.
Como ela morava com uma amiga, que estudava e trabalhava o dia inteiro, tinha sinal verde para usarem o apartamento como bem entendessem. Mas cada vez que ela o convidava para subir era um tormento.
O relacionamento dos dois parecia com uma partida de War, daquelas bem complicadas. Enquanto ele colocava 70 exércitos no Brasil, ela protegia a Argélia com outros 70. No rolar dos dados, ele ganhava terreno a passos lentos.
A primeira vez que tentou descer a mão para a bunda, recebeu um chega-pra-lá homérico. Para ter acesso aos peitos, foram rodadas e rodadas de insistência. Às vezes perdia até quando estava jogando no 3×1. Ela era habilidosa no rolar dos dados e fazia jogo duro.
Ganhar acesso ao quarto foi outro tormento. Foi quase como conquistar a Ásia tendo começado com o domínio da Oceania. Uma batalha árdua, rodada a rodada. Quando conseguiu deitá-la na cama, descobriu que mesmo recebendo muitos exércitos a mais, poderia ser atacado de todos os lados. Viu que às vezes ter a Ásia não era assim grande coisa.
Com vantagem no mapa, ele conseguiu enfim tirar blusa, sutiã e calça. Foi quando, deitados de conchinha na cama, ela soltou um: “Acho que a gente deveria esperar mais um pouco, amor. Mas eu te amo, viu”.
Ele era um bom estrategista, mas o adversário já o estava cansando. Na sua cabeça, o comentário foi igual àquele primo chato que, perdendo a partida, bate no tabuleiro e espalha todas as peças. Levantou, vestiu a camisa e saiu sem dar explicações. Nunca mais se falaram depois disso.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.