Este foi meu ano com menos leituras desde 2012. Não que tenha sido pouco, mas para meus padrões está bem abaixo. Mantive uma média de três livros por mês e cheguei a dezembro com 41 obras lidas, podendo aumentar mais uma ou duas dependendo de como for a última semana.

Apesar disso, minha consciência está tranquila. Como tenho passado menos tempo no ônibus, diminuiu o tempo que tenho para ler. Estou aos poucos me adaptando a uma nova rotina e criando novos espaços de leitura. Ou seja, acho que em 2019 as coisas voltarão ao normal.

Outro ponto positivo foi conseguir me livrar de alguns calhamaços e, além disso, comprar pouquíssimos livros. Minha estante está com 566 obras, sendo que apenas 32 delas não estão lidas. Isso corresponde a pouco mais de 5% do total, o que é um excelente número. E a previsão é diminuir isso nos próximos meses.

Essa queda só não foi maior porque assinei a Tag Inéditos, que me entregou um livro por mês desde abril. Decidi fazer um plano anual, com a esperança de que os livros fossem bons, mas até agora só tenho tido surpresas negativas. Acredito que a Tag Curadoria seja melhor (pelos livros que li até agora, são realmente excelentes), mas o preço é um impeditivo e devo cancelar o meu plano quando vencer o contrato.

Isso fez com que a proporção das obras duas ou três estrelas fosse muito maior do que nos anos passados. Excluindo os quadrinhos, li 29 livros. Desses, dei duas ou três estrelas para 14. Em compensação, os 10 livros cinco estrelas me fizeram ter uma tremenda dor de cabeça para fechar o ranking deste ano.

Comecei janeiro lendo o incrível Fahrenheit 451, que me fez pensar bastante sobre felicidade e o poder da literatura. Em março, foi a vez de me embrenhar nas histórias de Miguel de Cervantes, com o calhamaço Novelas Exemplares. Dois meses depois, me embrenhei em Westeros para o terceiro volume de As crônicas de gelo e fogo. Apesar de A tormenta das espadas ser o melhor da série até o momento, não conseguiu chegar ao Top 3.

Clarice, uma biografia foi uma aula de como apurar um tema e falar sobre um assunto tão difícil quanto a obra e a personalidade da Clarice Lispector. Falando em mulheres incríveis, em novembro terminei A cor púrpura, que é uma lição de como se reconhecer no mundo e, por que não, de escrita. Para fechar o ano, li O conto da aia e me vi inebriado por uma distopia terrível e que poderia ocorrer daqui uns anos.

Ou seja, apesar dos contratempos, foi um ano de leituras incríveis. Então, sem mais delongas, vamos ao top 3 de 2018.

2018

3º lugar: A guerra não tem rosto de mulher, Svetlana Aleksiévitch

Um soco no estômago. Foi isso o que senti enquanto lia cada página de A guerra não tem rosto de mulher. Minha primeira incursão na literatura da bielorrussa laureada com o Nobel de Literatura não poderia ter sido mais impactante. Estou habituado a narrativas de guerra e, lógico, sabia que as mulheres estiveram presentes na Segunda Guerra Mundial. Porém nada me preparou para os depoimentos presentes neste livro.

Com relatos fortes sobre os campos de guerra, as histórias de centenas de mulheres passam pelas páginas e enchem de personalidade um ambiente tóxico. No meio disso, a autora se coloca aos poucos, pontualmente, para mostrar as dificuldades da apuração, alguns detalhes que a marcaram e como foi o processo de construção do livro. Uma baita história e com um show de trabalho jornalístico. Não por acaso está entre os três melhores que li este ano.

2º lugar: David Copperfield, Charles Dickens

Um dos meus grandes desafios de 2018 foi superar as 1.312 páginas de David Copperfield. Digo desafio, mas é só pelo tamanho da obra, não pela dificuldade de leitura. Afinal, a história do menino órfão é uma delícia do primeiro ao último capítulo (e olha que são muitos). Poucas vezes tive tanta vontade de abraçar uma personagem igual tive com o David. Ou de socar alguém como tive com o Uriah Heep. Vivi intensamente cada página e isso fez diferença na minha experiência de leitura.

É lindo ver como os caminhos da memória são construídos ao longo do livro, mostrando a importância de cada fase do crescimento e trazendo reflexões pertinentes às diferentes fases da vida. E mesmo com muitos personagens, o Dickens se preocupa em amarrar a história de cada um. David Copperfield não é um clássico da literatura mundial por acaso.

1º lugar: Cem anos de solidão, Gabriel García Márquez

Nunca houve dúvidas de qual livro ocuparia a primeira posição deste ranking. Desde o momento em que Aureliano Buendía parou na frente do pelotão de fuzilamento, eu sabia que seria Cem anos de solidão. A história construída por Gabriel García Márquez é a síntese da América Latina. É o mágico que se mistura com o real. É a invasão de borboletas amarelas. As chuvas por anos sem fim. O massacre no trem. Uma família que luta pela sobrevivência e tenta romper as diversas camadas de solidão – individuais e coletivas.

Não gosto de usar a palavra genial porque ela está muito banalizada, mas não há outra forma de descrever este livro do Gabo. O que ele faz, costurando gerações e gerações de Aurelianos e Josés Arcádios, é algo único na literatura mundial. É uma história que vou querer reler algumas vezes no meu futuro, sem sombra de dúvidas.

Ranking dos últimos anos

2011: 3º – Desventuras em série, Lemony Snicket || 2º – Os três mosqueteiros, Alexandre Dumas || 1º – Peter Pan, J. M. Barrie
2012: 3º – A invenção de Hugo Cabret, Brian Selznick || 2º – Jogador nº 1, Ernest Cline || 1º – A torre negra, Stephen King
2013: 3º – A dança da morte, Stephen King || 2º – O encontro marcado, Fernando Sabino || 1º – Daytripper, Fábio Moon e Gabriel Bá
2014: 3º – Mrs. Dalloway, Virginia Woolf || 2º – Lolita, Vladimir Nabokov || 1º – Sandman, Neil Gaiman
2015: 3º – O velho e o mar, Ernest Hemingway || 2º – Febre de bola, Nick Hornby || 1º – O senhor das moscas, William Golding
2016: 3º – A guerra dos tronos, George R. R. Martin || 2º – Pequenos deuses, Terry Pratchett || 1º – O sol é para todos, Harper Lee
2017: 3º – Androides sonham com ovelhas elétricas?, Philip K. Dick || 2º – Anna Kariênina, Liev Tostói || 1º – A saga do Tio Patinhas, Don Rosa

Livros lidos em 2018

(As datas são relativas ao término da leitura)

03/01: Fahrenheit 451 – Ray Bradbury
16/01: Um reflexo na escuridão – Philip K. Dick
26/01: Carte blanche – Jeffrey Deaver
02/02: O aleph – Jorge Luis Borges
02/02: Bartleby, o escrivão – Herman Melville
07/02: Capitão Feio: Identidade – Magno e Marcelo Costa
07/02: Turma da Mônica: Lembranças – Vitor e Lu Cafaggi
21/02: Star wars: trilogia – George Lucas, Donald Glut e James Kahn
05/03: Neuromancer – William Gibson
07/04: Novelas exemplares – Miguel de Cervantes
16/04: Cem anos de solidão – Gabriel García Marquez
28/04: A boa filha – Karin Slaughter
04/05: Se eu fechar os olhos agora – Edney Silvestre
08/05: Vidas provisórias – Edney Silvestre
11/05: Jeremias: Pele – Rafael Calça e Jefferson Costa
03/06: Stalker – Tarryn Fisher
03/06 a 11/06: Quadrinhos A2, temporadas 1 a 5 – Paulo Crumbim e Cris Eiko
16/06: A tormenta das espadas – George R. R. Martin
21/06: A vendedora de livros – Cynthia Swanson
29/06: Guia politicamente incorreto dos anos 80 pelo rock – Lobão
15/07: Clarice, uma biografia – Benjamin Moser
19/07: Fique comigo – Ayòbámi Adébáyò
31/07: A guerra não tem rosto de mulher – Svetlana Aleksiévitch
08/09: Horácio: Mãe – Fábio Coala
22/09: Tinta fresca: Destino traçado – Digo Freitas e Vinícius Gressana
22/09: Tinta fresca: Linha de frente – Digo Freitas e Vinícius Gressana
23/09: David Copperfield – Charles Dickens
25/09: O pequeno príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
11/10: Southernmost: rumo ao sul – Silas House
13/10: O quarto em chamas – Michael Connely
02/11: A filha do rei do pântano – Karen Dione
15/11: Pietr, o letão – Georges Simenon
22/11: A cor púrpura – Alice Walker
26/11: Azeitona – Bruno Miranda
01/12: Existo, existo, existo – Maggie O’Farrell
23/12: Cebolinha: Recuperação – Gustavo Borges
24/12: O conto da aia – Margaret Atwood