Amor & cuba-libre
Álvaro Cardoso Gomes
Publicado em 1994
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Minha irmã deve ter gostado mesmo de 1991, pois os únicos livros que ela guardou em casa são desse ano. Quando eu era mais novo, descobri o Diário do Outro. Esse ano foi a vez de encontrar Amor e cuba-libre perdido no meio da bagunça.
Escrito pelo paulista Álvaro Cardoso Gomes, o livro é um daqueles que transpiram adolescência. Feito para ser lido quando se tem 14 ou 15 anos, tem uma premissa simples, uma estrutura narrativa objetiva e personagens cativantes. Colabora com isso o fato do autor ter vivido na cidade onde se passa a história durante a adolescência, mas estou me adiantando. Primeiro vamos falar da história e depois volto aos detalhes.
O cenário é o interior de São Paulo, na década de 1960. Sérgio acaba de se mudar para a cidade de Americana e precisa se adaptar à nova escola. Tudo fica mais fácil quando faz amizade com Bagulhão, Quatrolho e Jamanta, amigos para uma vida toda. Os quatro transitam pelos problemas típicos da adolescência, como namoros frustrados, paixonites, bailes, brigas com turmas rivais e inseguranças. Tudo regado a muita cuba-libre, “de preferência mais cuba do que libre”.
Pois bem, deu pra perceber que a premissa do livro é bem simples. É uma história sobre um período da adolescência de quatro amigos, contada em primeira pessoa pelo Sérgio. Ele namora a garota mais gostosa da cidade, mas ela é tão irritante que ele sempre tem vontade de terminar tudo. Só não faz por falta de coragem e por teimosia, já que Orelha também é a fim da menina e Sérgio não queria dar esse gostinho ao “rival”. Até que ele conhece Cybelle, uma menina que não cai em sua lábia. Nem precisa dizer que ele acaba se apaixonando por ela e passa a viver um dilema com Teresa, sua então namorada.
Aliás, é interessante notar que todos os personagens do livro possuem apelidos, menos Sérgio e seus interesses amorosos. Dos amigos do protagonista, Bagulhão recebe o apelido porque só fica com mulheres muito feias; Jamanta por causa do tamanho e força; e Quatrolho por causa dos óculos fundo de garrafa. Isso sem falar nas meninas, que recebem apelidos carinhosos como Maria Gasolina, Luísa Dinossauro e Vânia Taturana (os motivos estão bem claros). Se fosse um livro atual, seria acusado de incitar o bullying, tenho certeza.
Outro ponto interessante é que ele fala de forma bem natural do valor das amizades. Seja quando os quatro amigos entram em uma briga juntos, quando precisam resgatar um deles que está de porre, ajudar o outro a conquistar a menina mais impossível da escola, ou simplesmente beber no buteco antes de um baile, todos estão juntos. E como a história é contada do futuro (15 anos depois dos fatos narrados), é legal perceber duas coisas: que algumas amizades são realmente para a vida toda e que alguns amigos que consideramos eternos podem tomar outro rumo e sair do nosso convívio. Lições sinceras sobre amizade na vida real.
Não tem como ler o final do livro e não pensar nas nossas amizades, tanto as que persistem quanto as que já passaram. Na hora em que li, lembrei de um amigão meu, de quando eu tinha 7 anos, mais ou menos. Ele era meu vizinho e a gente brincava junto todos os dias. Quando ele se mudou, passamos a frequentar a casa um do outro com uma frequência grande. Mas o tempo foi passando e fomos nos afastando. Hoje em dia ele se tornou meu “primo”, já que a mãe dele se casou com um dos meus tios, mas a amizade nunca voltou a ser aquela de 15 anos atrás, justamente porque nesses 15 anos aconteceram muitas coisas. Nos encontramos em eventos de família e só. Mas as lembranças e histórias daquela época continuam. Sempre. E essa é uma das grandes mensagens do livro.
Amor e cuba-libre
Álvaro Cardoso Gomes
Editora FTD, 1990
118 páginas
P.S.: Acho um pecado estragar a Coca para fazer cuba-libre.
P.S. 2: Um beijo para os meus amiguinhos de mais de 10 anos de estrada e para os que quase estão chegando lá. Daqui a pouco dá pra encher duas mão com vocês.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.