Sobre a folha jazia uma lagartixa de corpo marrom-claro, possivelmente bege, que ele assassinara sem escrúpulos. Em realizado o feito, dois segundos após berrava de felicidade, chamando depressa a mãe. Enquanto aguardava para mostrá-la seu prêmio, o fedelho vangloriava-se, estufando o magérrimo peito e pensando ser uma espécie de deus: era capaz de findar a vida de um ser. Tolo. Ao contar sua glória para a mãe, foi severamente repreendido. O baque foi tão grande que a cena marcou a ferro o garoto. O efeito surtido, em muito, deveu-se à atitude da mulher: impondo-se uma serenidade coruscante, fez ao filho simplesmente três perguntas. “Por que você matou a lagartixa? O que ela te fez? Você acha mesmo que a morte é uma dádiva?”. Como o garoto, sem compreender a profundidade de tais perguntas, não às respondesse, de forma cruel a mãe selou a lição: “Não me olhe assim, dessa forma abobalhada! Eu não estou nada satisfeita com o que fez. Mas, como sei que é um bom filho, eu te perdoarei com uma condição.” Por um instante, por demais breve, seus olhos cintilaram, desejoso de reparar o erro – não suportaria decepcionar a mãe. “Quero apenas que devolva a vida da pobrezinha; seus filhotes não sobreviverão sem ela.” Ditas aquelas palavras de fogo, sem esperar resposta ao pedido voltou a mãe à lida diária. Petrificado, não pôde sequer cair aos prantos. Yorick acabara de perceber sua impotência; nunca seria um deus, tampouco esqueceria a cena. Deixou-se sentar em uma das pedras ali existentes, onde ficou até que sua consciência estivesse leve o bastante para permitir-lhe preparar um funeral digno.
Viajo há muito tempo percorrendo vários sistemas bem diferentes. A gravidade do planeta Química exerce forte atração sobre mim, mas o astro chamado Literatura é aquele no qual me sinto mais confortável. Nos entremeios e desencontros do caminho, músicas e histórias me ajudam a não perder o rumo.