Atenção! Quero anunciar pro mundo que estou de ressaca e mal consigo levantar do poleiro. Isso mesmo. Foram cinco dias de porres homéricos, com histórias para contar até pros bisnetos. Quem disse que “whisky ou água de coco pra mim tanto faz” estava errado. Pra mim tem diferença sim. Se eu tivesse ficado só na água de coco não estaria tão destruído. Não é só o meu corpo que dói, mas a consciência também. Não me lembro do que aconteceu na segunda e tenho apenas flashes da terça. O resto são histórias que chegam aos poucos aos meus ouvidos. E transei com a gorda com celulite.
(…)
Agora vamos falar a verdade: Alguém realmente acreditou no parágrafo anterior? Eu menti nele inteiro. Caso vocês não tenham percebido, deixei isso bem claro quando falei que peguei a gorda. Isso eu não faria nem bêbado. Vocês sabem que não bebo, que odeio carnaval e tenho nojo da gorda. Além disso, há anos minha programação do carnaval é a mesma: dormir, assistir a seriados e filmes e ler livros. Tudo bem que continuei acordando de madrugada pra cacarejar em cima do telhado, afinal alguém precisa trabalhar quando os outros se divertem. Tirando isso, foram cinco dias bem produtivos na minha vida.
Pensando bem, esse ano até fiquei tentado a dar uma escapulida do poleiro e curtir o carnaval um pouco. É que os blocos de rua resolveram voltar aqui pro galinheiro. Toda vez que um passava debaixo da minha janela, batia a vontade de descer para fazer bagunça com eles. Era o Bloco do Angu, das Inocentes, das Sujas, do Caixão… Então eu olhava pra minha televisão e a vontade passava na hora.
Quase venci a preguiça quando vi as fantasias que as galinhas estavam vestindo. Tinha odalisca, piriguete, cowgirl, enfermeira. Uma mais sexy que a outra, todas se esfregando ao som de funk. Já a gorda estava vestida pokébola. Eu juro! Ou era isso ou uma roupa de bombeira com uma calça branca. Talvez isso explique o chapéu vermelho, mas deixa pra lá.
Sem falar naquelas galinhas que foram piriguetar nas ladeiras históricas dos poleiros vizinhos. Aposto que daqui a algumas semanas vai ter uma nova leva de pintinhos sendo chocada. Por um lado isso é ruim, porque elas preferiram ir até o outro galinheiro e não me procuraram para diverti-las. Mas por outro lado é bom, porque o granjeiro vai achar que eu estou fazendo o meu serviço de garanhão reprodutor direito e não vai querer me substituir. Só espero que não nasçam pintinhos de pescoço pelado. Eita bicho feio da porra.
Calma, desconcentrei. Sobre o que estava falando mesmo? Ah sim, sobre a quaresma. A pior parte do carnaval não é nem aguentar as piadinhas de “feliz ano novo” ou “contagem regressiva para 2014”. A pior parte é ver as galinhas fazendo promessas para a quaresma. Nem religiosas essas fingidas são. Estão querendo redimir os pecados do carnaval, é isso? Deus não vai curar o seu sapinho se você ficar sem entrar no Facebook por 40 dias. Nem vai te aliviar da herpes se você ficar sem comer milho.
Aliás, a gente podia conversar a sério, deus. O senhor sabe que não sou religioso e tal, mas a gente podia negociar alguma coisa em troca de eu não comer milho durante a quaresma. Se me der uma chance com a galinha gostosa do poleiro de cima, aumento a proposta pra um ano sem comer milho. É um ótimo negócio! Então, estamos combinados?
Começou a escrever em 2008 para fugir de uma rotina massante no galinheiro e descobriu que era bom naquilo. Ou pelo menos achava que era, já que nunca conseguiu dar nenhum beijo na boca por seus textos. Dizem por aí que continua virgem, mas ele nega.