Caro Roberto Drummond,
Queria eu ter a desenvoltura que você tem para escrever sobre futebol. Você fazia parecer moleza nas suas crônicas. Não tenho essa facilidade. Estou digitando e apagando palavras por horas seguidas, mas nada que escreva tem o porte de algo que você já fez. Nenhuma homenagem ao dia de hoje será tão boa quanto um simples texto seu no jornal.
Sim, porque o dia de hoje é especial e você sabe o motivo. Nosso Clube Atlético Mineiro está completando 105 anos. Às vezes acho que é impossível uma instituição existir há tanto tempo, mas alguma coisa certa aqueles 19 meninos que se reuniram no Parque Municipal fizeram. Na época eles não sabiam, mas acabaram criando o PCAM, o maior partido de Minas. Criaram também um bando de apaixonados, com peles pretas e brancas e o Atlético como única verdade.
Queria muito que você estivesse aqui para ver como o time está bonito. Quando você nos deixou, o Galo tinha caído para o São Caetano nas semifinais do Brasileirão. Foi um dia triste para todos nós. Quis fazer igual ao menininho da sua crônica e pedir: “Me abraça, pai”, porque chorei como nunca havia chorado por um time.
Aquela foi a última vez que fomos tão longe na competição. Você teve o prazer de ver isso. Eu também. Mas, olha, já te contaram que o time do ano passado deu show? Ficou sabendo que o Ronaldinho Gaúcho joga aqui? Que temos um garoto novo e bom de bola chamado Bernard? Que nossa zaga é uma das melhores do país? Que temos volantes guerreiros, que não desistem nunca? E o Tardelli? Sabe que ele voltou? Ah, é mesmo. Você não viu o Tardelli jogar no Galo, mas saiba que ele deu muitas alegrias pra gente em um momento bem difícil do time. É um cara especial.
Terminamos o Brasileirão em segundo, acredita nisso? Só não fomos campeões por uns tropeços bobos, mas o time jogou tão bem quanto aquele de 1999. Aliás, estamos disputando a Libertadores de novo, igual aquela vez. E começamos bem. Já estamos classificados para a fase de mata-mata, com a melhor campanha e um futebol que dá gosto de ver. Isso sem falar no Independência, que virou nosso caldeirão. Desde o final da reforma, não sabemos o que é uma derrota em casa. Queria muito que você estivesse aqui para escrever sobre tudo isso.
O time só nos tem dado motivos para comemorar nesse aniversário de 105 anos. E 2013 tem tudo para ser um ano bom. Mas se os títulos não vierem, paciência. A gente aprendeu bem como é viver sem eles e sabe que existe futebol e paixão além da parede de troféus. Você, mais do que ninguém, sabe como é isso. Como é sofrer por derrotas amargas. Como é viver por um time que não corresponde à grandeza da torcida. Aliás, sabe também que é a paixão da torcida pelo time o nosso grande diferencial.
Ah, Drummond, também tenho vontade de rezar “Ave, Atlético, cheio de graça”. Também não sei que mistério é esse que o Atlético tem que às vezes o faz parecer gente. Também confundo a alegria que ele me dá com a da mulher amada. E, sobretudo, também confundo com uma religião, que me faz grafar Galo sempre com letra maiúscula. Da mesma forma como nos referimos a Ele, sabe?
E se houver uma camisa preta e branca pendurada num varal durante a tempestade, desculpa, mas não torço contra o vento. Eu vou para o lado da camisa e sofro junto com ela. Mostro que estou ali e sempre estarei ali. Apoiando, defendendo. Independente do que aconteça.
Queria que você estivesse aqui para escrever esse texto. Como não está, essa é só mais uma homenagem de um atleticano a seu time. O time que amo e sempre vou amar, já que trocar de time é grave e feio, amoral até.
Meus carinhos sinceros,
Bruno Assis
P.S.: Parabéns pelos 105 anos, Galo. De coração.
Foto do brother Lucas Conrado, do último jogo que a gente foi juntos.
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.