Às vezes você se transforma rápido demais. Numa velocidade que os outros não conseguem compreender. Você se torna maior do que si próprio e não tem mais pra onde ir. Nem mesmo seu pensamento é capaz de acompanhar. É nesse momento que tudo explode.
Claus fez o que pôde para conter sua inquietação, mas aquilo já durava mais de duas semanas e era impossível não sentir a brisa da mudança soprando – fresquinha! – no seu rosto. Um presente pode ser algo terrível! Experimente contar antecipadamente a surpresa! Exatamente… Claus já sabia o que esperar. Mas não sabia como esperar o que esperava. Muito menos o que esperar do que ele seria após receber o que esperava. Foi arrastando seus dias marásmicos assim, sem muita vontade, mas ciente de que não podia simplesmente abortar a missão e ejetar – não sem um paraquedas. Arranjou um jeito de desligar sua euforia e seguiu tranquilamente, como quem não quer nada, sem fazer alarde. Fingiu não se tratar dele. Fingiu não se tratar de algo grandioso, estupendo, esplêndido! Tentou achar meio banal ou até mesmo cafona. E até funcionou nos primeiros dias. Mas o presente não era uma coisa qualquer. Não era algo que se pode menosprezar. Não! Era muitíssimo mais do que isso! Uma coisa tão intangível que talvez fosse até possível tocar! Mas ainda não o possuía. Tentou visualizá-lo diversas vezes. Imaginou se seria, de fato, como lhe haviam prometido. Repassou mentalmente, várias vezes, os detalhes, as cores, os sons, as formas… Ficou bastante satisfeito na maior parte do tempo; teve medo em certos momentos; em outros pensou em simplesmente dizer: “Não, obrigado.” E dessa forma foi tocando o tempo que restava antes de ter nas mãos aquilo que sempre desejou (ou pelo menos pensava sempre ter desejado). Tornou-se inconstante não preciso de mais nada, é só esperar até é melhor deixar as coisas como estão. Às vezes leeeeeeeento… Noutraserelepe. E sua cabeça parecia um vulcão teimoso. Se pudesse ser descrito metaforicamente, metonimicamente, milimetricamente, detalhadamente, pode ser que fosse tomado pura e simplesmente por Opus Picasso. Viva e bem viva! Mas é um tantinho mais complexo. E tudo isso antes de receber o tal presente! Pelo menos não dava indícios de nada. Ninguém notara qualquer mudança até então. Até então. Mas… será que nada mudaria? De repente achou estranho pensar que as coisas não seriam como antes. Achou estranho pensar em desistir diante de tanta expectativa. Quase desistiu, na verdade. Mas seguiu. Prosseguiu. Fez de conta que a qualquer momento poderia apertar Start+Select. Encheu o peito de ar uma vez mais. Diminuiu o leão e entrou na jaula. Deixou que seus instintos o guiassem. Quando, mais uma vez, sentiu um arrepio, acalmou seu ego e disse de si para si: “Não é nada de mais, Claus. Não é nada de mais. Não passa de uma chave… Não passa de uma chave…”
Viajo há muito tempo percorrendo vários sistemas bem diferentes. A gravidade do planeta Química exerce forte atração sobre mim, mas o astro chamado Literatura é aquele no qual me sinto mais confortável. Nos entremeios e desencontros do caminho, músicas e histórias me ajudam a não perder o rumo.