O que alguém pode fazer em um dia de chuva? A minha mais sincera opinião é que dias de chuva merecem ser passados debaixo de um cobertor quentinho, assistindo a um filme ao lado da galinha mais gostosa de todas.

Como isso não é possível, tenho que trabalhar. Desde que melhorei da gripe, aquele galo velho maluco tem me enchido de coisas para fazer. Aposto que ele tá descontando o tempo que fiquei doente e não pude fazer nada. Ele deve estar puto por ter ficado com todas as minhas tarefas.

Acho que ele se encheu tanto que resolveu “tirar férias” por conta própria. Coloquei entre aspas porque daqui do alto do telhado dá pra enxergar ele lá no poleiro dele, enrolado na coberta. Aquele puto.

Enquanto isso, continuo tendo que cantar pra acordar o galinheiro inteiro. Esse povo apegado às tradições é uma merda. Me diz em que lugar do mundo o frango ainda é obrigado a cantar assim que amanhece? Frangos modernos têm trabalhos mais edificantes, saem atrás dos seus sonhos. Eu, pelo contrário, tenho que cantar até debaixo de chuva.

Sei que a piadinha vai ser infame, mas tô igual a um pinto molhado. Se eu pegar gripe do frango de novo, juro que mando aquele galo desgraçado direto pra panela. Tô encharcado, não tenho expectativa de sair daqui de cima tão cedo e ainda tenho que aguentar a imagem daquele velho assistindo tv como se nada estivesse acontecendo.

Peço perdão por ter ficado exaltado, mas até minha alma tá molhada. Tenho razão de estar assim. Para piorar, nem um guarda-chuva tenho. Como todos os meus que já comprei, ele sumiu e hoje habita a terra encantada dos guarda-chuvas. Tô ensopado e isso não é… epa, falei ensopado? Que mórbido. Da última vez eu tava “de molho”, agora tô “ensopado”. Espero que isso não seja uma premonição.

Ah, quer saber de uma coisa? Quem tá na chuva é pra se molhar, já dizia alguém que eu não me lembro agora. O negócio é sentar aqui no telhado e ficar esperando. Vou ficar olhando para o horizonte e esperar Noé vir me resgatar.

Vou desativar meu antigo blog, o “Memórias de um frango”. Para isso, vou resgatar as crônicas que estavam postadas lá, dar uma repaginada e trazer para cá. Quando escrevi essa crônica, chovia demais em Belo Horizonte. Foi em 2008, quando até mesmo a UFMG alagou e eu presenciei a água subindo pela Praça de Serviços. Isso me deixou tão impressionado que fui direto para casa escrever.