I cheated myself
Like I knew I would
I told you, I was trouble
You know that I’m no good
You know I’m no good – Amy Winehouse

Tentei escrever este texto ao longo dos últimos dias. Fazê-lo antes me deixaria mais tranquilo, com uma obrigação a menos a ser cumprida hoje. Então rascunhei inúmeros primeiros parágrafos, comecei pelo meio, desenhei algumas frases de impacto para o final. E fui incapaz de finalizar qualquer coisa. As ideias não concatenavam, nada soava bem. Faltava encontrar o tom certo para o texto e, bem, isso diz muito sobre como está minha vida no momento.
 
Acordo todo dia por volta das oito da manhã. Adianto uns freelas, acordo meus sobrinhos, brinco com eles um pouco e venho trabalhar no meu quarto por algumas horas. O almoço sai meio dia e até uma da tarde fico por conta das crianças. De tarde escrevo mais um pouco e trabalho em projetos pessoais. A noite é para filmes, seriados e livros. Essa é minha rotina há seis meses.
 
Soa como o paraíso, mas na verdade é apenas o reflexo do tom não encontrado. Não sou daqueles jovens que abandonam tudo para viver seu sonho de vender miçanga na praia ou rodar o mundo. Nem posso, aliás. Preciso ganhar dinheiro. Preciso de trabalho. Preciso andar com as minhas próprias pernas. Nem isso, que seria o básico para qualquer ser humano com vinte sete anos, consigo. Preso no primeiro círculo do inferno, vivo meu limbo particular de horizonte infinito.
 
Ao meu redor, vejo meus amigos avançando, com perspectivas reais para a vida. Não devia comparar minha vida com a de ninguém, eu sei, mas tenta explicar isso para meu cérebro. Inclusive alguns já comentaram comigo como me tornei aquele eterno potencial desperdiçado. E toda vez que me olho no espelho também enxergo isso. Odeio minha imagem atual. Não sei para onde ir, o que fazer ou a quem recorrer. Vivo um eterno nada e não consigo sair dele. A mente descaralhada, sem renda fixa e nenhuma perspectiva de melhora a curto prazo. Não queria soprar as velinhas e completar meus vinte e sete anos desse jeito.
 
Sabe o que é pior? Ter total certeza de que a culpa é minha. Única e exclusivamente minha. Se houvesse um grupo de autossabotadores anônimos, eu seria o líder dele. Não preciso de inimigos, me destruo sozinho. Ando sem ânimo para fazer as coisas. Vejo uma pilha de oportunidades e não sei como aproveitá-las. Não consigo sair do lugar. Cheguei a um ponto em que minha vida não faz mais sentido algum. Queria ter a mínima noção de para onde ir, já que continuar a nadar não funciona mais.
 
Meu eu do ano passado ficaria decepcionado se visse no que nossa vida se transformou em apenas 366 dias. Ele tinha sonhos, tinha esperanças. Sonhava com um futuro melhor e mais tranquilo. Já tinha saído do fundo do poço em que nos enfiamos há alguns anos e olhava para o céu azul. Tranquilo, esperava um futuro de flores. Agora, tudo que enxergo são as pedras da parede do poço surgindo à minha frente enquanto afundo cada vez mais.
 
A diferença é que já estive lá no fundo uma vez e sei o que preciso fazer para sair de lá. Estou preocupado com o que vai ser dos meus vinte e sete anos? Estou, pra caralho. Mas dessa vez vou lutar. Vou tentar sair sem o mínimo de danos, tenho as ferramentas para isso. Se eu não integrar o Clube dos 27, espero apenas estar em uma situação melhor aos vinte e oito.
 
É meu único desejo e, vai, nem é um desejo tão complicado assim de se realizar. Basta encontrar força de vontade para isso.