Capa do livro 4 novelas eróticas, com um homem e uma mulher nus se pegando

4 novelas eróticas

Amilcar Neves, Marco Antônio de Menezes, Geraldo Lopes de Magalhães e Benedicto Wilfredo Monteiro
Publicado em 1982

Certo dia, fuçando nos armários aqui de casa, encontrei um livro bem… digamos… safadinho. Estava escondido no fundo de uma pilha de outros volumes e tinha, na capa, um casal pelado se pegando. Enquanto ele beijava o pescoço da moça, ela e seu batom vermelho faziam cara de desejo. O cabelo da mulher, que pelo comprimento era a Rapunzel, se espalhava pela capa. Eu devia ter uns 13 anos quando encontrei o livro. Ou seja, os hormônios falaram mais alto e tentei ler escondido.

Depois de algumas páginas de tensão por estar fazendo algo “proibido” e de não sentir tesão nenhum, abandonei a leitura. Reencontrei o livro no ano passado e o trouxe para a minha estante particular. O desfecho da história quase foi o mesmo: abandono da leitura. Cheguei a fazer isso, mas meu computador resolveu cair no Horto e fiquei sem diversão. Decidi ser homem e terminar, a todo custo, o livro que eu tinha começado. Foi um sacrifício, mas consegui.

O livro é Status 4 novelas eróticas, que traz os contos finalistas de um concurso de literatura promovido pela revista Status, em 1982. Para quem não sabe, a Status é uma revista masculina (a.k.a. revista de mulher pelada) iniciada em 1974, mas que encerrou as publicações no final da década de 1980. Em 2011, a Status voltou a circular em uma versão mais moderna e com ensaios sensuais mais artísticos.

Procurei informações no Google sobre esse concurso, mas não achei nada de interessante para acrescentar aqui. O legal é observar que as publicações da época investiam na literatura, coisa que não ocorre hoje. É uma iniciativa legal, principalmente para trazer novos escritores e estimular (sem duplo sentido) os leitores. Outra que incentivava os escritores a mandarem seus contos eróticos era a Playboy, mas nunca achei nada encadernado.

Ilustração de várias mulheres seminuas lendo livros

Enfim, voltemos ao livro da Status. Dois mineiros, um catarinense e um paraense assinam os contos e muito do que é dito sobre eles nas biografias coincide com os cenários e personagens utilizados na histórias. Por isso, temos passagens nas ruas belo horizontinas, nas matas amazônicas, em Roma ou mesmo personagens jornalistas.

Movimentos automáticos, de Amilcar Neves, conta a história de uma mulher casada que provoca arrepios por onde passa. Um favor para Heloísa, de Marco Antônio de Menezes, fala sobre um jornalista que se vê preso em um hospital após um incidente no Canadá e precisa que a história sobre ele vá parar na mídia sem que ele pareça louco. O terceiro enviado, de Geraldo Lopes de Magalhães, trata de um homem dividido que enfrenta uma tuberculose. Por último, temos Como se faz um guerrilheiro, de Benedicto Wilfredo Monteiro, que conta as aventuras sexuais de um índio em sua busca para fazer filhos com todas as etnias possíveis.

Como disse, quase abandonei o livro pela segunda vez. Assim como quando era moleque, a obra me pareceu muito ruim. Para começar, o mínimo que espero de um livro erótico é que ele seja excitante. Que tenha passagens picantes e que instiguem os sentidos. Não precisa nem me deixar de pau duro, basta que haja passagens bem escritas e que deem o mínimo de tesão de continuar lendo. Nem isso os contos da Status fazem.

Mulher lendo um livro da Anais Nin

O mais erótico de todos eles é Movimentos automáticos, que acaba prejudicado pela falta de ritmo, pela estrutura fragmentada e pela inserção de diversos personagens que nada acrescentam à trama. Nos outros, a parte erótica é deixada em segundo plano ou mesmo inserida de maneira brusca e sem sentido. Em Um favor para Heloísa, por exemplo, na mesma hora que o personagem fala sobre o esquema de espionagem e lançamento de mísseis, ele fala também de como sentia o pau mais grosso dentro de determinada mulher e que a buceta dela parecia várias mãos apalpando cada pedacinho do pau. Passagens desnecessárias, só para acrescentar o gênero “erótico” à história.

Nos outros dois o problema é ainda maior. Em O terceiro enviado, a parte erótica nem existe e Como se faz um guerrilheiro é uma versão bem piorada do seriado How I met your mother, na qual o personagem demora séculos contando sobre todas as mulheres que ele comeu para, no fim, contar que não sabe nada sobre tal filho guerrilheiro. Além disso, as histórias não são interessantes por si só para sustentar o livro, com várias barrigas que seriam facilmente cortáveis e não fariam diferença no resultado final. Alguns são realmente confusos estruturalmente, com diversas mudanças de tempo que mais confundem o leitor do que contribuem narrativamente.

Foi uma batalha terminar, mas consegui. Só não vai ganhar o prêmio de pior livro do ano porque li Anjos do Sagrado Coração.

Status 4 novelas eróticas
Amilcar Neves, Marco Antônio de Menezes, Geraldo Lopes de Magalhães e Benedicto Wilfredo Monteiro
Editora Três, 1982
162 páginas

P.S.: Só duas pessoas leram esse livro no Skoob. Me sinto um hipster, exceto pela parte de dizer que já gostava antes de virar modinha.