Fui todos os dias ao FIQ, em horários variados. Vi a Serraria Souza Pinto vazia e também abarrotada de gente, com dificuldade até para andar nos corredores. Mas uma coisa era certa: não importava o dia ou o horário, o estande dos webcomics sempre estava cheio. E, coincidência ou não, toda vez que eu passava na entrada era o Digo Freitas que estava recepcionando a galera. Já acompanho o Esboçais há um bom tempo, então não tinha como confundir, já que o Digo é a cara do desenho que ele faz de si mesmo. Quando fui comprar as minhas edições de O Pedreiro: Vida, Cantada e Obras e Disco só confirmei as suspeitas.
As duas obras têm uma pegada bem diferente, então vou falar de cada uma individualmente, a começar pelo Pedreiro. O livro, primeira publicação independente do Digo, traz uma coletânea das tirinhas de um personagem que existe desde 2011 no Esboçais, o Pedreiro. O foco, como vocês podem imaginar, são as famosas cantadas sem noção, tão famosas e disseminadas por aí. E, citando o prefácio de Rafael Marçal, não é difícil associá-lo ao Johnny Bravo, só que com um chapéu de obra amarelo.
O que começou como uma parceria com o @pedreiro_online criou vida própria e lá se vão dois anos e meio de produção. O livro traz as 72 primeiras tiras do pedreiro e é possível notar uma evolução no traço do Digo nesse período. Observe a comparação abaixo, que traz a primeira tirinha publicada por ele (e que abre o livro) e uma mais recente, que não se encontra na obra.
Desde a utilização de sombras, traço, cenário, cores, anatomia e caracterização dos personagens. Tudo tem uma clara evolução e isso é bacana, já que o autor ainda é novo e ainda pode evoluir muito. O texto das tirinhas, apesar de seguir o padrão já consagrado das cantadas, consegue surpreender em algumas e quebrar as expectativas. Essas, para mim, são as melhores do álbum e são usadas com a prudência certa.
E há um detalhe que é bem simples e bem legal no livro. Logo após o prefácio, há um espaço para você mesmo escrever uma cantada barata e presentear o seu lindo ou a sua linda. Se eu tivesse comprado dois, com certeza escreveria algo bem cretino ali e daria para alguém!
O segundo livro, Disco, tem cara de fanzine impressa em boa qualidade. É uma pequena história em preto e branco, com 16 páginas, que acompanha a história de um robô gigante que precisa atravessar uma cidade completamente destruída. E, obviamente, não vou contar o motivo dessa jornada porque é isso que descobrimos ao fim da história.
O desenho em si é muito diferente do que o Digo faz no Esboçais, menos cartunesco do que estamos acostumados. A ideia da história é legal e o desenvolvimento é bem executado, pelo menos até a chegada do terceiro personagem. Pelo pequeno número de páginas, ele acabou não sendo tão bem explorado e as reações dele foram minimizadas, sendo que elas são essenciais para o desfecho.
Outra coisa que não entendi direito é a identidade visual da capa, toda pixelizada. Ela faz referência ao mundo destruído, mas os pixels não têm relação com o conteúdo. Já o logo de Disco é muito bem bolado e faz todo sentido com a história.
O Digo foi super gente fina quando cheguei no estande para trocar ideia, vendeu os quadrinhos dos coleguinhas e soube vender o peixe dele. Espero ver mais coisas produzidas por ele num futuro próximo!
O Pedreiro: Vida, Obra e Cantadas
Digo Freitas
Independente, 48 páginas
2013
Disco
Digo Freitas
Independente, 18 páginas
2013
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.