Não existem vantagens em ser um frango. É uma fase de transição complicada entre ser pintinho e ser galo. A crista não tá totalmente em pé, o cacarejo falha de vez em quando, o porte não é dos melhores. Você ainda é um moleque e, ao mesmo tempo, já tem grandes responsabilidades. Mesmo sem os grandes poderes, é preciso enfrentar isso.

No fim, você é um mero nada. Ninguém se lembra da sua existência. Em vez de fazer o seu papel de frango garanhão reprodutor, você ganha o galo velho caquético pra te dar aulas. De quebra, vê todas as datas comemorativas passarem em branco. Não ganho nada no dia dos pais porque ainda não tenho idade para isso; o dia das mães é impossibilitado pela biologia; dia dos namorados não dá certo porque sou um frango; dia dos avós, dia da secretária, emoday, dia do sexo. Tudo passa sem comemoração quando se é um frango.

O mais frustrante de todos é o dia das crianças. Tenho muita inveja daqueles pintinhos pulando alegres com seus brinquedinhos novos. E eu? Não ganhei nem um abraço, quem me dera um presente. Quase deixei minha crista tampar o olho e virei emo. Ainda por cima o feriado caiu num domingo. DO-MIN-GO!

Domingo é dia de ser feliz, sair do galinheiro, passear, assistir à Fórmula 1 de manhã, ver as galinhas gostosas andando sensualmente pelo mato. Nada disso deu certo. A corrida foi de madrugada, acordei muito cedo por causa das intermináveis aulas daquele velho, não recebi nem um sorriso de “feliz dia das crianças”, fiquei mal-humorado o dia inteiro, não saí do poleiro e, como consequência, não vi as galinhas gostosas.

Ou seja, mais um dia perdido na minha vida. Odeio perder domingos à toa. Fico mal a semana inteira. Aliás, é mal ou mau? Deixa para lá, depois olho no dicionário. O que me deixou mais mal(u) foi ver aqueles pintinhos excitados, correndo e pulando de um lado para o outro, comendo doces a vontade, fazendo o que queriam, pelo menos por um dia inteiro.

É inveja mesmo, já admiti antes e volto a falar (e vou fazer em caixa alta para deixar bem claro): INVEJA! Espero que todos eles morram de uma forma lenta e dolorosa. Só espero que o natal chegue rápido. Pelo menos é uma data universal, na qual todos ganham alguma coisa. Só espero que eu não me decepcione. De novo.


Vou desativar meu antigo blog, o “Memórias de um frango”. Para isso, vou resgatar as crônicas que estavam postadas lá, dar uma repaginada e trazer para cá. Essa crônica tem uma história legal por trás, já que partiu de um grupo de escrita criativa. Ele funcionou apenas uma vez, mas foi incrível. Nós sorteávamos um tema e uma forma de escrever e, a partir disso, nos virávamos. Para mim caiu “crônica” e “humor negro”. É baseado em uma piada e, por favor, não queiram me bater depois de ler.