Fiz matrícula na academia. Desse jeito mesmo: curto e direto. Fui lá, fiz minha inscrição, avaliação física e entrei. Estão surpresos? Eu também. Nunca pensei que levantaria peso às sete da madrugada, mas todo dia estou lá batendo ponto. Esse boa frequência não quer dizer, nem de longe, que eu esteja gostando. Pra falar a verdade, tô é odiando.
Essa desgraça só aconteceu por culpa do Galo Novo. Não sei qual o motivo, mas ele decidiu que um dos objetivos da vida dele é me ver com barriga de tanquinho. Coitado. Mal sabe que meu sedentarismo é algo intrínseco a minha personalidade. Que prefiro passar o dia inteiro no poleiro, comendo e assistindo filmes. Que é um suplício ter que subir até o telhado todo dia. Que só de espreguiçar de manhã já sinto que fiz todo o exercício da semana. Agora ele quer que eu faça companhia pra ele na academia? Inocente.
O problema é que todo dia de madrugada ele passa aqui no poleiro e me acorda. Aquele verme maldito vem justo na hora da soneca-pós-despertar-o-galinheiro, aquela que é a mais prazerosa. Acho que ele faz isso porque tem medo de me deixar por conta própria e eu simplesmente não aparecer. Lógico que ele tem razão, era exatamente isso que eu faria. Então ele vem todo animado com aquela garrafa de água com algum suplemento bizarro, uma toalhinha bordada e um sorriso no bico. Ninguém tem o direito de ostentar aquele sorriso no bico às seis e meia da madrugada. Ninguém!
O ritual é o mesmo: ele me tira do poleiro à força, me obriga a calçar aquele tênis colorido bizarro que dizem ser para fazer esportes e me empurra rumo à academia. E quando eu falo empurra, é literalmente. De vez em quando ele precisa até me carregar de tanto drama que faço para não sair de casa.
Isso tudo porque o primeiro dia foi traumático. Me passaram uma ficha com uns 12 exercícios diferentes. Será que eles esperavam que eu faria os 12 em um dia só? Decidi dividir eles ao longo da semana em doses homeopáticas, mas o Galo percebeu e me obrigou a fazer todos. Ficou do meu lado o tempo inteiro gritando palavras de incentivo, contando as séries e me empurrando pros outros aparelhos. Fiz tanto corpo mole que teve uma hora que ele apelou e começou a me xingar. Falou que eu era um franguinho, que não aguentava nada. Comecei a rir e falei que eu era mesmo. Acho que ele ficou meio puto depois disso e enfiou mais peso nos exercícios.
Nem preciso nem falar o tanto que meu corpo ficou dolorido depois dessa brincadeira. Não conseguia nem levantar a asa pra pegar um copo de água. No dia seguinte, aquele Galo filho da puta ainda veio pra me levar pra academia no meio da madrugada. E o pior, ele conseguiu! Maldito.
Chega de falar mal. A academia também tem pontos positivos e o maior dele é a falta de divisão entre a parte masculina e a feminina. Até a chegada do Galo Novo, eles não tinham ninguém do sexo masculino frequentando o lugar, então não tinham problema com isso. Como o meu amigo não tem interesse por galinhas, nem se preocuparam em dividir. Agora estou indo lá todos os dias e me beneficiando disso.
Nossa, não tem coisa melhor do que aquelas galinhas malhando as patas ou levantando peso e tonificando os peitos. E os exercícios para os glúteos? Tenho que me controlar muito pra não deixar os pesos que estou carregando caírem na minha cabeça quando elas começam a malhar. Ou me controlar muito pra não apanhar do Galo Novo, que me dá um tapão no pescoço toda vez que me pega olhando pras galinhas. Às vezes eu acho que é ciúmes, mas prefiro nem cogitar isso.
Mas nem essas visões compensam os lados ruins de uma academia. Para completar, tem duas semanas que estou lá e até agora não vi resultados. Quero só ver em quanto tempo vou desistir dessa merda.
Começou a escrever em 2008 para fugir de uma rotina massante no galinheiro e descobriu que era bom naquilo. Ou pelo menos achava que era, já que nunca conseguiu dar nenhum beijo na boca por seus textos. Dizem por aí que continua virgem, mas ele nega.