Foto: Pedro Souza / Atlético

No intervalo de Atlético e Juventude, eu e minha amiga sentamos na arquibancada e ficamos em silêncio, apenas contemplando a torcida e o campo. A perna direita balançava de forma involuntária e, por trás da máscara, o semblante estava sério. O olhar desviava para baixo, como a não encontrar lugar. “Tô muito tensa”, ouvi. “Eu também”, respondi. E foram as únicas palavras que trocamos até as amigas que estavam com a gente voltarem do bar.

Ninguém nos avisou que estar tão próximo ao título brasileiro mexeria tanto com nossos nervos. O time jogava bem, mas estávamos com muito medo. O Juventude entrou com uma linha de cinco na defesa e quatro meio-campistas logo na sequência. Apenas um homem flutuava à frente do bloco, que teimava em ficar na entrada da área e impedir as jogadas do Galo irem para frente. O pivô não funcionava como deveria, os cruzamentos não encaixavam e não havia possibilidade de contra-ataque. É a partida que, em outros tempos, o Galo perderia – ou, no máximo, arrancaria um empate. O jogo estava travado e nós acompanhávamos essa sensação.

Por isso, quando o juiz parou uma jogada no meio campo para consultar o VAR, trocamos olhares incrédulos. A queda do Diego Costa na área passou batida, como mais um lance de jogo. Até mesmo a reclamação da torcida tinha sido dentro dos padrões. Ainda sem entender bem aquilo, vimos um pênalti ser marcado e o Hulk, enfim, abrir o placar. Gritei, abracei minhas amigas e escorreguei na cadeira. Rosto tampado, respirei fundo algumas vezes. Um sorriso no rosto e os nódulos de tensão em minhas costas se aliviando aos poucos. O esquema 10-0-0 montado pelo Juventude acabava ali.

Foi só então que consegui aproveitar a festa que as 61,5 mil pessoas faziam no Mineirão. Se antes eu estava cantando e batendo palmas de forma automática, a partir daquele momento usei todas as forças que encontrei em meus pulmões. O Mineirão parecia um ser vivo, pulsante, exalando confiança. Foi a mesma sensação de quando o Galo fez o terceiro gol contra o Flamengo na semifinal da Copa do Brasil de 2014, quando sabíamos que o quarto viria e nos classificaríamos. Entao, quando Hulk parou, pensou e carregou a bola caprichosamente para dentro das redes, o Mineirão veio abaixo. “Vamos, vamos, Galo, ganhar o Brasileiro”, entoava o 12º jogador. E o time respondia com raça e amor a cada jogada.

São 14 vitórias seguidas em casa, em um aproveitamento absurdo acima de 90%. A Palmeiras não tem mais chances de nos alcançar e seguimos oito pontos à frente do Flamengo. Mas agora são cinco rodadas para o fim e, devagar, aquilo que parecia tão distante começa a tomar forma. Poucos que estavam no Mineirão contra o Juventude vivenciaram o sentimento de estar no topo do Brasil. Agora várias gerações estão empurrando o time para, enfim, se unir a eles.

Quando o juiz apitou o fim do jogo, os jogadores permaneceram no gramado e a torcida se recusou a ir embora. A plenos pulmões, cantava “Vou festejar o teu sofrer” e “Lutar, lutar, lutar”. E, mesmo que ainda não tenha nada definido, o grito entalado na garganta saiu. “É campeão”, entoou todo o estádio. Imprudente, sei, mas agora falta muito pouco para isso se tornar realidade. Quando a matemática der sua benção, Belo Horizonte vai vir abaixo.