Antes de sair pela porta, parou e respirou fundo.
Estava prestes a realizar seu maior sonho. Uma vida inteira de preparação para aquele momento e agora estava a apenas um passo de conquistá-lo. Desbravar o espaço, ver a Terra lá de cima, chegar a lugares inexplorados. Que criança nunca sonhou com isso? Ele agora estava ali, no lugar que muitos imaginaram estar e poucos conseguiram.
Lógico que era uma missão arriscada. Nada no espaço é 100% seguro. Apesar das pesquisas, era impossível saber quais danos eles sofreriam no futuro. Foram seis meses de viagem e ainda teriam a volta. Mas lá no fundo, ninguém realmente se importava com isso. Toda grande aventura começa com um passo no escuro e essa deixaria seu nome gravado para sempre na história. Era isso que valia.
Sabia da grande responsabilidade da tripulação. Sabia e a aceitava feliz. O mundo precisava de pessoas corajosas e eles estavam fazendo a parte deles. Quando retornasse, seria ovacionado. Traria avanços científicos. Serviria como exemplo para milhões de meninos e meninas. Não é pecado sonhar com a glória depois do que estavam prestes a fazer. Já se imaginava nas escolas, cercado pelos pequenos e suas dúvidas. O sorriso surgia fácil por baixo do capacete enquanto pensava nisso.
Parado na porta, lembrou-se de tudo que passou para chegar ali. Quando entrou para a universidade, foi obrigado a deixar a casa onde nasceu e viveu. Na despedida, mãe e filho foram incapazes de segurar as lágrimas. “Você vai longe na vida, meu querido. Se fizer tudo direito, você vai longe”, disse ela, entre soluços e abraços. O pai, mais sério, deu o último conselho: “Às vezes pode parecer escuro, mas a ausência da luz é uma parte necessária. Se cuida e manda notícias”. E o filho tinha certeza de que ali havia pessoas com quem podia sempre contar.
Lembrou-se de quem encontrou pelo caminho, dos amigos que deixou para trás, dos amores, dos problemas, testes, perigos, disputas. Foi um longo trajeto. Difícil, mas valeu a pena. Nem que fosse apenas para compartilhar aquela maravilhosa vista da noite com o mundo. Uma noite gloriosa, em sua opinião.
Antes de sair pela porta, parou, respirou fundo. Deu, então, uma última olhada para o espaço. Lindo, infinito. Sentiu-se maior que ele. Sentiu que podia vencê-lo. Sentiu em seu peito a força de todos que estavam ali, esperando por aquele momento histórico. E seu primeiro passo em marte foi o também o primeiro passo de bilhões de pessoas.
Para ler ouvindo: 93 million miles – Jason Mraz
Esta crônica faz parte do Music Experience
Comecei a vida dentro de um laboratório de química, mas não encontrei muitas palavras dentro dos béqueres e erlenmeyers. Fui para o jornalismo em busca de histórias para contar. Elas surgem a cada dia, mas ainda não são minhas. Espero que um dia sejam.